Dificilmente, o mundo real pode ser colocado em um jogo de simulação. Contudo, Crusader Kings II, título da Paradox, pode nos ensinar algumas coisas sobre pandemias, como a do Coronavírus.
Não é de hoje que aqui no Guariento Portal fazemos analogias entre o mundo real e os games. Civilization, por exemplo, uma das principais franquias de estratégia ainda em funcionamento é o maior exemplo. Foi usada para o conflito do choque do petróleo entre Arábia Saudita e Rússia. Também foi usado na quase conflito entre Irã e Estados Unidos. Desta vez, esqueceremos Civilization e iniciaremos a nossa discussão com um título chamado Crusader Kings, especialmente sua segunda versão. Disponível para PC através da Steam com uma infinidade de expansões, o jogo coloca o jogador na pele de um membro de alguma família nobre durante a Idade Média. Com todos os conflitos entre igreja, bruxas, palácios e é claro, doenças. Obviamente, esta analogia também remonta o momento histórico da Peste Negra para a atualidade do Coronavírus.
Para quem não conhece, a Peste Negra foi uma das mais sombrias pandemias que se abateu sobre o território da Europa e da Ásia. Por volta do século XIV, cerca de um terço de toda a população europeia sucumbiu. Acredita-se que a Peste Negra tenha iniciado seu percurso ainda nas estepes da Ásia e atravessou a Europa através da Rota da Seda. Como estamos falando da Idade Média, hábitos higiênicos não eram tão presentes assim na sociedade. Aos poucos, a disseminação da doença se tornou em larga escala. Crusader Kings II, em especial na sua expansão Reaper’s Due, destaca este momento de alta letalidade. Mesmo que a Peste Negra tenha galardoado o título da principal pandemia daquela época, outras como a Febre Tifóide, a Pneumonia, a Varíola e a Catapora também eram responsáveis pela mortalidade de plebeus e nobres.
Na lógica do jogo, não importa as ações que você fará, quando uma pandemia ocorre, é questão de tempo até que chegue ao seu território. Nesse cenário, como Rei, Duque, Príncipe ou Imperador, resta você tomar medidas para diminuir a taxa de letalidade de sua região. Não há possibilidade de fechar fronteiras, e nações que ficam próximas a Rota da Seda tem uma facilidade maior de serem infectados. Um dos remédios é uma espécie de gasto público, construindo e melhorando centros hospitalares em suas regiões. Novamente, isso não fará com que a região fique incólume contra a doença. Mas, pelo menos tornará seus efeitos menos adversos. Tais situações, além de serem fáceis com o aperto de um botão são programadas. Estão em um ambiente controlado. Agora, vejamos uma nação, de quaisquer tamanho, com instituições organizadas, uma economia igualmente complexa. Como tomar atitudes extremas para combater o Coronavírus?
Crusader Kings II, mesmo que indiretamente e com suas especificidades destaca o que de mais destrutivo existe em uma pandemia. Ela não se espreita em fronteiras, ela passa por todas elas. A pergunta não é quando ela poderia chegar, mas o que fazer para que seus efeitos não sejam devastadores. Longe de igualar a Peste Negra com o Coronavírus. Os sistemas mundiais de saúde e a medicina evoluíram desde o século XIV para a maior parte da população. O agente patogênico é conhecido, e, se respeitado, os órgãos sanitários e de controles estão em atividade para promover a diminuição de casos para que o sistema de saúde não entre em colapso. Outro ponto importante, e que vale para as autoridades humanas e reais é que neste momento, o fortalecimento dos sistemas de saúdes nacionais se fazem mais do que necessários. Se fazem fundamentais.
Não por menos, uma das poucas medidas no título para conter qualquer epidemia é a construção de hospitais. No entanto, somente segurar os recursos da Saúde não podem ser as únicas medidas. E, diminuir o aumento de contágio passa a ser cada vez mais a prioridade das nações envolvidas. Por todos estes motivos, maiores exigências devem ser requeridas em situações cada vez mais complicadas. E de fato, países como Brasil, Itália e França não podem ser colocados em bytes e simuladores. Variáveis são descartadas para que tudo fique jogável. Por isso, outras ações entram em jogo, como mitigação da circulação de pessoas, por exemplo, que não existe no título. Porém, ela pode ser muito bem usada para buscar uma diminuição da curva de casos.
Novamente, e pela terceira vez, a questão não é inibir a disseminação. O Coronavírus já se encontra em um estágio em que é impossível de ter alguma contenção. O enfrentamento se faz mais do que necessário. No entanto deve ser racional, em uma sociedade onde os recursos da saúde são escassos. Além disso, as ações dos reis e duques do jogo não contam com a possibilidade de que o povo ao qual é responsável cumpra com as ordens acatadas. Se os súditos de um Rei ou os representados de um Presidente não se importam para ordens de quarentena e se aglomeram cada vez mais, nem mesmo o melhor dos sistemas de saúde poderá ajudar. Tal serenidade deve vir de todos, especialmente de membros de Poder.
Assim, o que qualquer nação agora deve fazer é se preparar, mesmo que cedo ou tarde, em relação a contaminação de seus cidadãos. O fechamento de fronteiras, como visto na Europa e nas Américas é uma medida drástica, mas necessária em um período de contenção onde o principal transmissor é o ser humano. Para aquelas nações que já encontra casos em seu solo, o ideal é prevenir o contato. Para tanto, por mais que questões econômicas sofram (assim como na maioria das pandemias, inclusive na Peste Negra) não se pode desistir do objetivo principal agora; diminuir a velocidade de contaminação. Mesmo que não seja tão mortal quando a pandemia da Idade Média, o Coronavírus tem seus perigos. E pode ser igualmente desastroso para aqueles que não derem a devida atenção para seus efeitos.