O Inferno já foi palco de diversos títulos entre as mais variadas gerações de videogames. De certa forma recente, o título Agony, da Madmind Studios tentava criar uma atmosfera aversiva em seu próprio mundo obscuro, porém não conseguiu tanto êxito. Contudo, no meio desse grupo de títulos temos um produzido pela extinta Visceral Games, responsável pela franquia Dead Space. Trata-se de Dante’s Inferno. Produzido em 2010 e disponível para PlayStation 3, Xbox 360 e PlayStation Portable, o título entrega o que a aventura preconiza. O jogador toma a forma de um cavaleiro cruzado que, tomando como base a Divina Comédia do escritor florentino Dante Alighieri deve descer aos infernos para resgatar sua amada, Beatrice. Para isso, ele passará por todos os círculos dos pecados, devendo derrotas seus principais inimigos. Resta saber é claro se o título faz jus a sua própria aventura.
Um mundo assustador, digno da Divina Comédia de Dante Alighieri:
Primeiramente, e como já falado, Dante’s Inferno tem ao seu favor a excelente estrutura produzida por Dante em seus escritos. E por isso mesmo, espere por vários personagens que aparecem na Divina Comédia, assim como o próprio Virgílio, que é o guia do jogador pelas profundezas. Nesse contexto, o título compensa e muito em sua construção de mundo. Os círculos infernais, em nove, representam diversos pecados humanos e são fielmente produzidos, e por diversas vezes perturbadores. Não há a necessidade de se conhecer a Divina Comédia para apreciar o mundo do game, porém, se você tiver este conhecimento, provavelmente sua imersão será ainda maior. São rios de sangue, vendavais e pessoas presas dentro de caixões ardentes. Logicamente, por se encontrar no Inferno, não espere por cenas auspiciosas. Pelo contrário, o game faz questão de abusar da escatologia e do gore.
Ainda em sua construção de mundo, Dante’s Inferno consegue trazer inclusive para os chefes de cada fase uma certa peculiaridade. Esta aliás combina com o tema de cada círculo infernal. Além disso, o game apresenta uma certa premissa que cabe ao jogador o poder de salvar ou de punir almas. Após entrar no Inferno, o jogador poderá ver em diversos locais almas errantes pedindo por ajuda. É possível ver o que tal pessoa fez em vida. E então o jogador é o único que decidirá se vai punir ou absolver. Isso é especialmente necessário pois Dante’s Inferno usa de um sistema de upgrade em suas duas principais armas. Como bom humano, o jogador era um cavaleiro templário que cometeu erros, e para isso, se redime, usando tanto o seu lado sombrio quanto o seu lado mais angélico.
Tenho o poder em suas mãos. Seja absolvendo ou punindo almas com uma trilha imersiva:
Salvar alguém aumentará seus atributos para utilizar a Cruz, enquanto punir lhe dará o poder sobre a Foice da Morte. Desta forma, o jogador é livre para seguir as suas perspectivas ao ver o que cada uma daquelas almas cometeu, trazendo uma certa exclusividade sobre cada história que ali se encontra. Por mais é claro que seja simplória. Quanto a narração do próprio jogador, esta ocorre de maneira rápida, indicando os motivos de ter levado o templário para o Inferno, assim como sua querida esposa Beatriz. No decorrer das jornadas, especialmente quando o jogador encontra algum conhecido, o game faz questão de mostrar uma espécie de evento passado, muitas vezes destacando o motivo daquela figura estar ali.
Um outro ponto que merece destaque é a trilha sonora do título. Com tons épicos, Dante’s Inferno consegue passar a necessidade de urgência e de grandiosidade do pano de fundo que possui. As áreas são normalmente desafiadoras e a trilha faz questão de promover isso, especialmente entre a troca dos círculos mais profundos do Inferno. O jogador consegue se sentir ainda mais imerso em sua viagem por meio da jogabilidade do título, que é bem construído e responde de maneira adequada. Inegavelmente, o título pega o estilo God of War, clássico da Sony por exemplo, para fazer sua própria trilha. Aqui, como já falado, o jogador tem ao seu dispor o lado das trevas e das luz, e o Hack’n’Slash é levado até o fim especialmente nas grandes batalhas. Um rápido deslize do game é que embora seja Hack’n’Slash, ele possui uma certa linearidade desnecessária.
Dificuldade agradável, que evolui com o tempo, embora a longevidade não seja tão grande:
Entretanto, por mais que tenha essa linearidade, o título consegue manter o seu próprio vigor. Como já dito, sua produção de mundo é coesa e produzida, e verificar cada lado do inferno é ao mesmo tempo assustador e tenebroso, mas também desafiador na medida certa. Não há perigos tenebrosos, nem momentos de extrema facilidade. A dificuldade enfim consegue evoluir de maneira agradável. O que é claro não quer dizer que determinados momentos não criarão apertos para o jogador. Dante’s Inferno ainda oferece uma longevidade trabalhada para os jogadores mais hardcore oferecendo a exploração dos cenários em busca de itens valiosos. Contudo, não é necessário a busca de todos eles para chegar até finalizar a aventura principal. Na verdade, essa longevidade é uma faca de dois gumes, pois a simples busca de novos artefatos não consegue levar o jogador a buscar uma nova partida dentro dos círculos do Inferno.
Junto a isso, é claro que Dante’s Inferno se sai muito bem em sua construção. Isso já foi dito ao menos três vezes. Contudo, se a trilha sonora brilha, o mesmo não pode ser dito de sua parte gráfica. Afinal, uma coisa é a construção de mundo, outra coisa é a execução deste. E em Dante’s Inferno é possível ver um tratamento desigual entre as áreas e seus cenários. Mesmo não ocorrendo queda de performance, ainda assim existem texturas extremamente aquém do que o título apresenta em outros momentos. Especialmente quando se está próximo de desfiladeiros e precipícios é possível ver este problema. Além disso, nos momentos de maior exploração, é possível ver essa desatenção gráfica com ainda mais presença. O terror de fato está dentro do game, mas poderia estar bem mais belo e vistoso do que o visto.
Sua história como personagem principal tenta enganar, mas não consegue:
Além é claro desse problema mais técnico, temos a situação da própria história do personagem. Ao mesmo tempo que usa toda a produção de Dante Alighieri, o game faz uma certa questão de fazer a sua própria versão. Assim, vemos a jornada do herói para as profundezas depois da morte de sua esposa, Beatriz. No entanto, por mais que o roteiro tente dar uma certa reviravolta se aproximando do final, já se torna bastante óbvio os motivos que levaram o Cavaleiro a se encontrar naquela situação. Além disso, em seu terceiro ato, o enredo tenta se amarrar por meio de Lúcifer, o principal traidor da história. Contudo, essa ligação da história do personagem com o Anjo Caído não consegue convencer. Infelizmente, a estrutura não foi usada com toda a propriedade que teria.
Com qualidade, Dante’s Inferno tem várias arestas para aparar, mas é uma entrada digna da Visceral Games nesse mundo infernal:
No fim das contas, Dante’s Inferno de forma alguma é um título ruim. Muito pelo contrário, agrega um certo gosto especialmente nos títulos que abusam do Gore. Além disso, o que mais se sobressai no game obviamente é a sua construção de mundo baseado no Inferno de Dante. São locais desoladores, terríveis e monstruosos que mostram o fim dos pecadores, cada um tendo o seu próprio castigo. Aqui, os tons escuros, os sussurros e os gritos estão por todo o lado, de fato fazendo uma das apresentações infernais mais interessantes já vista. Além disso, a possibilidade do jogador ter o poder de salvar e de punir como forma de evoluir suas armas é uma espécie de easter-egg, porém acertado de deixar esse mundo ainda mais vívido, muito ajudado pela trilha sonora e pelo equilíbrio de dificuldade.
Infelizmente, é claro que o game tem seus pontos problemáticos. É possível por exemplo ver texturas que não foram tão bem trabalhadas, praticamente inacabadas, especialmente nos momentos mais exploratórios e entre as passagens dos círculos infernais. Além disso, a simples ideia de buscar relíquias pode não ser o suficiente para que o jogador retorne a aventura, que é aceitável. Por fim, por mais que o roteiro use a todo o momento de sua estrutura dantesca, a criação do personagem principal e de seus motivos não são fortes o suficiente de tal forma que o game poderia ter. Especialmente quando do encerramento da narrativa em seu terceiro ato. Mesmo diante de tudo isso, Dante’s Inferno consegue se sobressair com certa qualidade, trazendo um Inferno vivo e que certamente o jogador conseguirá imergir em suas estruturas, por mais que os erros estejam presentes.
Veja mais no Guariento Portal se gostou desta análise de Limbo. Que aliás está nas mais diversas plataformas, não deixe de comentar também!
Se você gostou dessa análise de Dante’s Inferno, saiba que o Guariento Portal tem um espaço dedicado para o mundo dos games. Assim, você pode gostar de outras análises, como a mais recente de Limbo, indie que também está disponível no Xbox 360 e no Xbox One. Além dele, temos Among Us, título fenômeno para mobile e Steam produzido pela InnerSloth. Já para o Xbox One, assim como outras plataformas, temos o Indie Party Hard, que coloca o jogador na pele de um assassino. E também tem Super Bomberman R, título lançado primeiro no console híbrido da Nintendo, o Switch, pela Konami e que virou multiplataforma depois. No PC, temos o estratégico Crusader Kings III, da Paradox, e o simulador Planet Coaster, da Frontier Developments.
Números
Dante's Inferno
Baseado na Divina Comédia, Dante's Inferno é um Hack'n'Slash tenso e extremamente competente, especialmente em sua criação de mundo.
PRÓS
- Criação de mundo sólida e com ótima trilha sonora. baseado na Divina Comédia.
- Dificuldade balanceada, com os chefes dos Círculos Infernais desafiadores.
- Sistema de progressão eficiente que usa de easter-egg's de personagens da Divina Comédia.
- Hack'n'Slash frenético sem nenhum tipo de travamento.
CONTRAS
- Questões quanto a texturas de determinados lugares deixam a desejar.
- História do personagem principal parece ser inteligente, mas não é.
- A questão de buscar relíquias não aumenta a longevidade do título.