Não é de hoje que o Universo dos jogos usa e abusa de mitologias ao redor do mundo para suas inspirações. E, no decorrer dos anos, a franquia Diablo foi se alargando cada vez mais, desenvolvendo toda uma sociedade e um conjunto de lendas único. O que pouca gente sabe – ou melhor, aqueles que não jogaram toda a franquia – é que ela também bebe de um imaginário humano. A Mitologia que o jogo faz questão de usar é a a suméria, uma das primeiras civilizações a surgirem, e que, se você não matou aulas de história, sabe que ela ficava entre os rios Tigre e Eufrates. Entendendo o seu mito de criação, é possível responder a pergunta de quem é o principal vilão da franquia Diablo. E não, Diablo pode dar o nome, mas não é o principal! é Tathamet, sua progenitora.
E faça-se a luz! Mas com ela, vieram as trevas também!
Segundo o mundo dos jogos produzidos pela Blizzard, há muito tempo, antes que o Universo existisse, uma criatura era a única, Anu. Baseando-se em uma entidade suméria que tem o mesmo nome, o Anu do mito original era considerado o deus do céu e o principal Annunaki adorado na região. Junto a ele, uma tríade reinava. Enlil, Senhor do Vento, e Ki, Senhora da Terra. Na história de Diablo, o Anu reinava absoluto, detendo o poder do bem e do mal dentro de si, e vivia dentro de uma pérola da criação. Ali, todo o poder do que existia se continha com a vontade de Anu.
Contudo, Anu estava descontente pois queria ser apenas bom, e separou sua parte ruim, expulsando assim todo o mal de si. Mas, como uma entidade com vida e consciência, aquela maldade não foi destruída e juntou-se em uma criatura. Tathamet, um dragão de sete cabeças tornou-se a reencarnação de toda a impureza, e assim do mal. Contudo, Tathamet tinha saído de Anu, e por isso estavam eternamente ligados dentro da concha da criação. Eram praticamente irmãos, que não se davam bem. Uma era de lutas intermináveis que nem o tempo consegue contar se abateu sobre Anu e Tathamet, um tentando destruir o outro, mas ambos sem sucesso.
Tathamet tem uma linhagem no mundo real; Tiamat, que também aparece no seriado Caverna do Dragão:
Na mitologia suméria, Tathamet foi baseado na criatura Tiamat, que provavelmente deve conhecer ao assistir a animação Caverna do Dragão. Tendo duas cabeças a menos, o Enuma Elish, que é o mito da criação do mundo na Babilônia destaca que ao se revoltar conta os deuses, Tiamat tornou-se uma criatura do perfeito caos. Com um exército de monstros que ela conseguia criar, ao lado de seu filho Kingu, ela detinha a Tábua do Destino, o que desesperava os Annunaki. Buscava-se então um ser capaz de derrotar Tiamat de uma vez por todas, e coube a Marduque, o filho de Anu, essa missão.
Diferente de luta entre Marduk e Tiamat, em Diablo a peleja é resolvida entre os próprios irmãos. Após eras de lutas e conflitos, uma batalha final foi decidida com a morte dos dois, Anu e Tathamet. O resto de Tathamet se separou da luz de Anu e se concentrou no fundo da realidade. De sua carne enegrecida e de seus restos mortais, reinos começaram a surgir, eram os Infernos Ardentes, e de seu sangue brotaram criaturas de puro mal, os Demônios. Daqueles vindos diretamente de sua sete cabeças, estariam os Grandes Males, demônios de puro poder e que ansiavam rivalizar e destruir o reino dos Anjos. Além deles, haveriam também os Pequenos Males, que embora de menor poder que seus grandes irmãos, são capazes de grandes estragos.
Com a licença poética, o conflito é Diablo se torna ainda mais sangrento:
Na Mitologia Suméria, a semelhança para aqui, pois a morte de Tiamat não cria demônios nem nada do tipo. Muito menos tem relação com o conflito de céu e inferno visto em Diablo e em suas sequências. Na verdade, quando Marduk extermina a criatura, seus restos tornam-se parte da existência. Seu tórax, que foi aberto é o vácuo entre o céu e a terra. As lágrimas que ela derramou se tornaram rios, o Tigre e o Eufrates, e sua cauda, a Via Láctea. Com a permissão dos outros deuses, seu sangue foi juntado ao barro da terra para formar assim a humanidade, em uma outra versão do mito de Adão e Eva. No fim das contas, no mito babilônico, parte da maldade foi usada para a criação de tudo que pode ser visto.
Mas, não é só isso. Estamos chegando na origem do próprio Diablo, já que ele é uma das cabeças decepadas de Tathamet, como falado anteriormente. Possuindo sete cabeças, três delas são chamadas de principais, e cada uma tem seu pensamento e vida própria. Elas dariam luz aos Senhores do Terror, do Ódio e da Destruição, a alcunha respectivamente de Diablo, Baal e Mephisto ou os Grandes Males como são conhecidos. E os principais adversários dentro dos jogos, tanto o primeiro, de 1997, quanto o segundo, de 2001 e o terceiro, lançado onze anos depois. As outras quatro cabeças, também são dotadas de identidade próprias, tornam-se os Males Menores, Andariel, Duriel, Belial e Azmodan.
No fim de tudo, os Males são libertos, e uma nova guerra deve estar prestes a começar:
O intuito de Diablo, como mostrado em Diablo III era de reunir o poder de seus seis outro irmãos para que dentro de seu corpo ele “absorvesse” o poder do mal primordial, ou seja, Thatamet, sendo assim invencível para os Nephelim e todo o corpo celestial. O que ele não contava era da existência do jogador que deveria destruí-lo completamente no final. Ocorre que, todos os males estavam alojados na Pedra Negra da Alma, que seria aprisionada, se não fosse pelo Arcanjo Mathael, que buscando dizimar a humanidade, invade a fortaleza e no confronto contra um Nephelim, a destrói. Assim, é possível achar que tenha destruído Diablo e seus planos de dominação, mas saiba que na verdade, eles foram é libertos, uma vez a extinção da Pedra Negra.
Em suma, o mito apresentado na verdade em Diablo pode iniciar na Mesopotâmia, mas sem dúvida passa por conhecimentos persas. O conceito de dualidade do cristianismo, a ideia de arder no inferno também não é algo exclusivo da cultura ocidental. Na verdade, até a relação entre Tathamet e Anu apresentada em Diablo é uma copia estilizada das entidades Ahura Mazda e Angra Mainyu do Zoroastrianismo, uma antiga religião iraniana que deixou algumas marcas até mesmo em religiões ocidentais. Além dela, também é possível ver uma ligação em outras áreas, como é o caso de Aka Manah, dentro do filme Bird Box, da Netflix.
Seja do mito sumério babilônico com a adição persa, Diablo consegue unir em seu Universo uma história tão antiga quanto o tempo:
O primeiro, Ahura Mazda, ser único, decide criar uma contrapartida ruim para se livrar de todo o pecado contido. Tal como na história de Anu e de sua contraparte dentro do Universo de Diablo, tal situação não ocorre perfeitamente, e com a criação de Angra Mainyu, uma guerra entre o bem e o mal foi travada. É possível perceber as exatas linhas entre a história de Ahura Mazda e Angra Mainyu em sua contra partida babilônica. No fim das contas, é possível concluir a existência de uma grande criatividade. E é claro, com isso, muitas fontes da rica cultura humana se fazem presentes. Mesmo que seja levemente baseada ou uma misturada sem fim. Mas ela estão ali, presentes não somente em Diablo e toda a sua estrutura, mesmo que seja um excelente exemplo.
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Se você curtiu essa curiosidade sobre a história a batalha titânica de Anu e Tathamet e a criação do Universo de Diablo, provavelmente poderá gostar de outras novidades, além da Análise do terceiro título. Dentre as principais novidades que o Guariento Portal pode oferecer, temos uma análise de Aragami: Shadow Edition. Além dele, temos também a história da Mansão Himuro, que deu origem a Fatal Frame e dicas quanto a Ornstein e Smough, duas criaturas conhecidas no Universo de Dark Souls, que está disponível também no canal do Youtube do Portal. Já dentro do Nintendo Switch e com a série Pokémon, os especiais são variados. É possível ver a localização das Aves Lendárias de Galar, dos Regis de Hoenn e das Espadas da Justiça. Mais recentemente, temos um relato sobre a mudança drástica na história de Sindel, a Rainha de Edenia e mãe de Kitana em Mortal Kombat.
* Diablo é uma série extremamente popular de RPG. É produzida pela Blizzard, inicialmente para PC desde 1997. Seu mais recente lançamento da série principal, Diablo III, de 2012 ganhou versões melhoradas que incluíam DLC’s, como Reaper of Souls, que aumenta a longevidade do título. Diablo III: Eternal Collection já está disponível desde 2017 para PlayStation 4 e Xbox One, e em 2018 para o Nintendo Switch. Vale lembrar que esta versão pode ser jogada por retro compatibilidade no Xbox Series S/X, além de que a própria Blizzard divulgou o desenvolvimento de Diablo IV, que continua sem uma data definida de lançamento.