Quem aprecia o gênero horror conhece filmes com a temática zumbi. Não por menos, existem clássicos que levaram o gênero nas costas, como A Noite dos Mortos Vivos (1968), refilmagens interessantes como Madrugada dos Mortos (2004) e até mesmo que mesclam comédia ou romance, respectivamente Zumbilândia (2009) e Meu Namorado é um Zumbi (2013). Tentando trazer um ar refrescante a esse gênero, Zack Snyder retorna ao gênero que começou sua carreira com Army of the Dead: Invasão em Las Vegas (2021). Com muita câmera lenta e um estilo gore audacioso, o filme reúne um grupo que deve retornar a uma Las Vegas infectada para roubar um cofre com duzentos milhões de dólares. Enfrentando praticamente uma monarquia de mortos-vivos antes que uma bomba atômica acabe com todo o local. Resta saber é claro se o longa vale a pena. Para isso, acompanhe a Crítica a seguir.
Tecnicamente interessante e autoral, Army of the Dead apresenta um cenário de devastação de qualidade. Com uma ironia certa e uma boa trilha sonora:
Primeiramente, e de forma bem franca, o diretor Zack Snyder sabe como filmar cenas de ação, embora abuse da câmera lenta tal qual Michael Bay. Na introdução, ao apresentar o apocalipse zumbi na cidade, o diretor marca absurdamente o seu estilo, apresentando desmoronamentos, quedas, bombas, explosões e uma horda zumbi. Tudo isso ao som de Viva las Vegas, algo estranhamente contraditório mas que dá o tom do longa. No fundo, Army of the Dead não é um longa de terror, mesmo apresentando uma carga elevadíssima de gore. Está mais para uma ação sanguinolenta onde os zumbis inclusive são mais humanos do que tradicionalmente vistos. Os cenários, sejam da própria cidade quanto do cassino a ser assaltado são bem feitos, sendo a maior parte produzido por computação gráfica. E o tigre zumbi que dá as caras também mostra a qualidade da parte técnica.
Quanto a sua narrativa, dado os espaços para a apresentação dos personagens, Army of the Dead demonstra tempo mais do que suficiente para apresentar o seu time. Algo interessante para um longa que poderia simplesmente começar direto com sua invasão propriamente dita. Depois da queda de Las Vegas, os sobreviventes se dispersam, e o tempo passa. Até que uma proposta irrecusável chega, roubar duzentos milhões de dólares de um cassino antes da explosão de uma bomba atômica. Assim, o grupo liderado por Dave Bautista (o Drax de Guardiões da Galáxia) deve entrar na cidade e conseguir sair a tempo. Aqui, apresentam-se praticamente os elementos ao estilo RPG. O arrombador de cofres divertido, a piloto de helicóptero com um time de comédia desvirtuado, a melhor amiga do chefe e a filha rebelde. Estranhamente, cada um tem um tempo de tela para marcar a sua personalidade. Embora nem todos carismáticos.
Uma roleta russa de quem irá sobreviver. Contando é claro com muito sangue e com um sub texto que pincela crítica social:
Com um grupo tão grande de pessoas, irônico seria se todos sobrevivessem. Coisa que o filme logo de cara destaca que não irá acontecer. É aqui que a grande sacada de Army of the Dead surge. Literalmente, ninguém está a salvo, afinal, estão em um território onde zumbis famintos buscam carne humana. Então, aos poucos tudo vai ficando cada vez mais difícil, e os membros da equipe vão se sacrificando para prosseguir, como peças em um xadrez, com direito é claro a litros e mais litros de sangue, assim como uma maquiagem espetacular de feridas, embora determinados momentos ultrapasse o puro realismo e seja mais cômico. O filme é assim corajoso de deixar todos os seus protagonistas a mercê da morte, matando-os sem nenhum tipo de dó ou piedade. Esse final, clichê, deixa em aberto uma continuação futura.
Há de se destacar também, e até de forma inteligente a espécie de sub-texto que envolve Army of the Dead. Se sua carapaça envolve basicamente um assalto no meio de uma cidade infectada, há vários momentos, em que de forma não tão irônica, o diretor consegue colocar contextos sócio políticos dentro de sua história. Como se assim trouxesse mais camadas. Elas, na maior parte das vezes ocorrem nos primeiros momentos do longa, onde ainda é possível observar uma coesão pacífica em seu roteiro. São questões de crítica como a questão imigratória, como é o caso do campo de refugiados dos sobreviventes de Las Vegas e o uso da bomba atômica para a resolução de qualquer grande problema. Não é algo que crie uma espécie de narrativa neural como Mãe de Darren Aronofski, mas amadurece o roteiro e mostra mais uma vez a personalidade de seu diretor dentro das telas.
Zack Snyder não pode fazer roteiros. Ele tem que se concentrar no que faz de melhor, cenas de ação:
Agora, se por um lado há um certo suspense sobre quem irá sobreviver a invasão de Las Vegas, temos problemas na obra de Zack Snyder, e praticamente todos eles se ligam ao roteiro, escrito também pelo diretor. Em primeiro lugar, Army of the Dead tem um roteiro tenebroso, onde ações dos personagens são caricatas. Até se tenta criar um carisma com os membros da equipe, como é o caso do alemão Dieter, o alívio cômico, mas ao chegar no início do segundo ato, o longa se torna na verdade uma amostra do poder do diretor de criar boas cenas de ação, não boas histórias de ação. E aqui, até mesmo suas câmeras lentas atrapalham pelo uso em excesso. Há uma necessidade de criar um senso de urgência ou de atos dos personagens que destoa da realidade. Pensando é claro em um obra sombria realista como o diretor costuma produzir.
Junte isso com os próprios mortos vivos. Aqui, em Army of the Dead temos a criação dos alfas, zumbis com consciência, e não apenas isso, capazes de compor uma hierarquia da morte. O “rei” tem sua consorte e inclusive um herdeiro. É capaz de domar um cavalo zumbi, ter um tigre zumbi como mascote e ainda por cima utilizar um capacete para não tomar um tiro no cérebro, a única parte em que pode destruí-lo. Não que zumbis não possam se tornar cada vez mais inteligentes, mas aqui eles são colocados com uma dificuldade acima do limite e com zero de sentido, pois seu tamanho e poder já seriam o suficiente para criar uma rivalidade. Nem mesmo a boa atuação de seu personagem principal, que consegue ter camadas diferenciadas do pai brucutu permite que a história ande de maneira tranquila.
Duas horas de duração para uma história que poderia ser bem mais rápida. E Zumbis superpoderosos, você encontra em Army of the Dead:
Afinal, há diversos momentos de altos e baixos em Army of the Dead. Anteriormente, destaca-se que o filme gasta uma boa parte do tempo apresentando seus personagens, e isso acaba criando suas camadas. Porém, nem tudo são flores pois esse momento dura quase que a metade do longa, para que a outra o grupo esteja dentro da cidade de Las Vegas. Há momentos em que existe total sentido de uma carga emocional, justamente para ligar o espectador aos personagens, mas há outros em que a queda de ação na narrativa implica em um filme longo demais para a sua própria história. Em determinado momento, há uma enrolação completa para a invasão e fuga do cofre que, mais uma vez, é culpa do roteiro. Da forma simplificada que ele se apresenta, o filme poderia ter bem menos do que suas duas horas de duração.
Tecnicamente interessante, mas ordinário em sua narrativa. Army of the Dead tem seu ponto de diversão, mas está longe de ser um longa especial em seu gênero, tudo por culpa de seu roteiro:
No fim das contas, Army of the Dead é uma representação bem autoral de seu diretor, Zack Snyder. Afinal, sua cartilha está presente. Iluminação escura ou sombria, gore alucinante, momentos de ação frenéticos envolvidos em muita câmera lenta. E sim, existem pontas de qualidade. Como o bom uso da trilha sonora e de seus efeitos especiais, uma marca que de fato é registrada. As camadas promovidas pelos personagens permitem uma melhor imersão, e é claro com a certeza de que nem todos irão sair ilesos dessa missão. Essa sem duvida é a grande qualidade, pois destaca e cria um suspense em saber quem irá viver ou quem irá morrer, no melhor estilo roleta russa. Parte do sub texto está presente, embora não ganhe substância e está ali apenas para destacar o pensamento do diretor. Army of the Dead no fundo é um longa sanguinário de ação.
E, mesmo tendo cenas de ações interessantes e bem produzidas é praticamente apenas isso, um conjunto de cenas bem feitas. Que de vez em quando perdem sua qualidade pela quantidade absurda de câmera lenta em momentos não propícios. E aqui, dois pontos em especial fazem com que o filme caia de maneira drástica no conceito. Seu roteiro e o nível de seus mortos vivos. O roteiro acaba sabotando os seus próprios personagens, criando momentos desconexos e muitas vezes demorados demais que fazem a narrativa se arrastar por suas duas horas de duração. E vai se perdendo em toda a sua estrutura. Por outro lado, seus mortos vivos são quase como criaturas de outra patente. Algo que tenta criar uma ideia de perigo, mas completamente desnecessário. Por isso, Army of the Dead pode ser descrito como um filme ordinário de ação, mas apenas isso.
Veja mais no Guariento Portal se gostou desta Crítica de Army of the Dead: Invasão em Las Vegas (2021). O filme está disponível na Netflix e é a mais recente criação de Zack Snyder depois de seu corte de Liga da Justiça. Não deixe de comentar também, pois é muito importante para o crescimento e desenvolvimento deste Portal!
Gostou da nossa Crítica com Army of the Dead: Invasão em Las Vegas? Pois saiba que o Guariento Portal não vive só de games, mas também de filmes. Aqui, você pode encontrar análises de ambos os tipos. Já no mundo dos filmes, é interessante notar que nossa aba de Revisitando o Passado, é possível encontrar crítica de filmes antigos, como os da franquia Hellraiser (Renascido do Inferno e Renascido das Trevas), assim como O Enigma de Outro Mundo de 1982 e a franquia Indiana Jones, como O Templo da Perdição e Os Caçadores da Arca Perdida. Assim como análises de O Grito (2020), Destruição Final: O Último Refúgio. Na Disney, temos curiosidades e Críticas também, como é o caso de Alladin (2019) e Thor: Ragnarok, assim como curiosidades sobre Branca de Neve e sua história real e WandaVision.
https://www.youtube.com/watch?v=aodNHxH2j64
* Army of the Dead: Invasão em Las Vegas (2021) é o terceiro longa que apresenta zumbis a ser avaliado pelo Guariento Portal. Os dois primeiros que receberam uma crítica foram Invasão Zumbi, filme sul coreano elogiado pela crítica ao colocar drama em um apocalipse zumbi. Enquanto o segundo, Invasão Zumbi 2: Península é mais focado em ação, não abarcando tantos elogios da crítica especializada. O longa de Zack Snyder já está disponível no serviço de streaming da Netflix. Assim, todos esses filmes você pode conhecer melhor no Urso.Tv, o melhor site sobre conteúdo de críticas de filmes e séries existentes.
Números
Army of the Dead: Invasão em Las Vegas.
Army of the Dead, filme de assalto zumbi disponível na Netflix tem a cartilha completa de seu diretor, Zack Snyder. Tecnicamente interessante mas com uma história furada. Divertido? Talvez!
PRÓS
- Questão técnica de qualidade, com uma boa e irônica trilha sonora.
- Efeitos especiais que agregam perfeitamente a parte plástica.
- O suspense de desconhecer quem sairá vivo da missão gera uma imersão peculiar.
- Um sub texto que agrega, embora não seja tão inspirado assim.
CONTRAS
- O roteiro não é inspirado, e na verdade é uma colcha de retalhos.
- Momentos da narrativa criam buracos desnecessários em relação a duração do filme.
- Zumbis poderosos demais, sem nenhum motivo de serem poderosos.