Depois do sucesso do singular Hellraiser: Renascido do Inferno em 1987, os olhos de cobiça logicamente começaram a tramar uma nova sequência para a então nova franquia. É então que menos de um ano após o lançamento do primeiro longa, Pinhead e toda a Ordem de Gash estavam de volta em Hellraiser II: Renascido das Trevas. Contando os acontecimentos após o primeiro filme, o longa não teve a direção de Clive Barker, tanto o idealizador de toda a história quanto seu produtor. No entanto, grande parte dos pontos que focaram na consolidação de Hellraiser também se mantiveram, como o uso de efeitos práticos, embora englobando agora efeitos especiais e é claro, o uso e abuso de sangue violência para tratar a condição dos cenobitas. Afinal, são exploradores de todas as formas de dores e de prazeres. Resta saber é claro, se o longa consegue manter a qualidade como sequência.
Mesma estética, e ainda mais aprimorada em termos de sangue e gore. Isso é Hellraiser:
Para começo de conversa, Hellraiser II: Renascido das Trevas trás novamente Kirsty Cotton do longa anterior, agora internada em um sanatório. Claro que os acontecimentos sobre a Configuração dos Lamentos a fizeram ser internadas na clínica do Doutor Philip Channard. Entretanto, o que se mantém como destaque não é essa continuidade, mas a manutenção da estética que consolidou o primeiro longa. Corpos sem pele, a clara violência em todos os lugares, o uso de sangue para compor a tela. Tudo isso se mantém em uma atmosfera igualmente opressora. Mesmo que Clive Barker não estivesse presente na produção, sua história continuava no mesmo estilo. Da aparição dos Cenobitas, novamente a aura de mistério sobre essa ordem se mantém, assim como o Leviatã, colocando como deus do labirinto e senhor dos Cenobitas. Na verdade, em certos aspectos, Renascido das Trevas chega a ser mais sangrento que o antecessor.
Na verdade, o uso dos efeitos práticos aqui chega a ser melhorado. Com um orçamento maior, que é visível na produção, os Cenobitas e os produtores puderam literalmente usar rios e rios de sangue. Não por menos, as cenas são efusivamente manchadas em tons vermelhos em praticamente todo o canto. Do retorno de Julia Cotton, personagem anterior através de um colchão ensanguentado é uma das cenas mais emblemáticas do longa, e abusa dessa violência gráfica. Quanto aos efeitos especiais, focado especialmente a partir do segundo ato, logicamente para os avanços atuais estão extremamente datados. Porém, ainda assim, para a época foram utilizados de maneira correta, sem tomar a posição dos efeitos práticos, que continuam sendo o ponto alto de Hellraiser, atrelados com uma direção competente e um jogo de luz e sombra que causa essa sensação de repulsa, mas ao mesmo tempo de curiosidade.

A mitologia do reino dos Cenobitas fica ainda mais evidente, com o passado de Pinhead:
E, embora com alguns erros, Hellraiser II: Renascido das Trevas consegue melhorar e aprofundar toda a história sobre este Universo Paralelo de dor e prazer, uma vez que a história se foca especialmente em aumentar esse escopo. A ideia de existência de vários enigmas da Configuração dos Lamentos mostra a vastidão desde mundo. A partir do segundo ato, praticamente toda a aventura ocorre dentro do Labirinto, o Inferno dos Cenobitas. Aqui, também se destaca a aparição completa da Ordem, de Pinhead e de seus asseclas. Poderia ser algo ruim, visto que o uso excessivo do antagonista pode desacreditar sua imagem. No entanto, isso não ocorre neste filme pelo motivo de que suas entradas chegam a ser poderosas, e claro com uma atmosfera e uma trilha sonora que marcam a presença de tais criaturas. Até mesmo a aparição de outros personagens do filme anterior também criam uma ideia de continuidade.
Porém, a história não é tão inventiva quanto o primeiro. E a tentativa de iniciar uma franquia slasher também é uma perda do tom de Renascido do Inferno:
No entanto, se embora os aspectos mais técnicos foram melhorados ou se mantiveram constantes, não é possível dizer o mesmo da história. Sem dúvida o principal problema de Hellraiser II: Renascido das Trevas. Primeiramente, por mais que seja uma continuação do longa do ano anterior, ele acaba se perdendo em criar uma ponte segura para continuar sua história. Ao fim de Renascido do Inferno, a casa foi incendiada e em teoria, o colchão onde Julia morreu também. Mas ele aparece intacto, apenas com as manchas de sangue. Além disso, Kirsty termina com seu “namorado” jogando a Configuração dos Lamentos em uma fogueira. E aqui, ela já se encontra sozinha dentro de um manicômio. Logo, há erros que chegam a ser grosseiros de continuidade. No entanto, mesmo abstraindo tais situações e de uma melhor expansão da mitologia, ainda assim há outros problemas, a mudança no tom.

Se Hellraiser de 1987 tinha um tom soturno e sobrenatural, de perigo mas sem ser um slasher de carteirinha, ao estilo Sexta Feira 13, em Hellraiser II: Renascido das Trevas, a situação inicia uma mudança. Como o roteiro coloca a maior parte de suas atividades no Inferno, temos uma jogo de gato e rato nessa região. Aqui, Hellraiser perde uma de suas maiores mecânicas, o mistério, para então ser mais vinculado a ideia de um antagonista que está sempre atrás dos personagens principais. Até mesmo a reviravolta dentro do terceiro ato, em que Pinhead percebe que já teve sua humanidade não convence, e na verdade desperdiça completamente o personagem. Há uma lacuna aqui entre a mitologia, autêntica em sua criação, com o roteiro, que não é tão criativo assim. Se antes havia uma aura de mistério, agora o descalabro da correria praticamente toma os holofotes do longa.
Atuações que não agradam e a quantidade desnecessária de personagens. Isso também está presente em Hellraiser II:
Sofrendo do mesmo problema do anterior, as atuações também não são sofisticadas, sendo na maior parte das vezes esquecíveis. Tirando a imponência de Pinhead, que praticamente se mantém a mesma, todos os outros personagens são simplórios, ora unidimensionais ora sem expressões. Se, no primeiro longa, Julia (Clare Higgins) tinha uma personalidade que até respingava um certo juízo entre o certo e o errado, em seu retorno ela é completamente maléfica. Além disso, embora Barker não tenha sido o roteirista, a entrada de personagens secundários desnecessários também se faz presente. O próprio antagonista, que depois se torna o Doutor Channard (Kenneth Cranham) em uma versão cenobita é completamente desprovido da mesma energia dos Cenobitas originais. Percebe-se que o roteiro tentou ser diferente do original, porém se perdeu completamente. Entretanto, o terceiro ato, pelo menos possui uma continuidade melhor do que o visto anteriormente.

Hellraiser II: Renascido das Trevas tem sua qualidade e mantém os principais pontos que fizeram sucesso no primeiro longa. Porém, é inferior em outros pontos, especialmente a história:
Desta forma, Hellraiser II: Renascido das Trevas pode não ser tão poderoso quanto o seu antecessor, mas ainda assim é uma continuação que mantém as raízes de sua franquia. Primeiramente, é óbvio denotar que o uso da atmosfera sadomasoquista, com quantidades invejáveis de sangue e gore ainda continuam. A construção do corpo humano sem pele, assim como a atmosfera opressiva dos Cenobitas se mantém. A direção consegue manter o padrão, e eleva o vício do grotesco e curioso ainda mais em relação ao primeiro. Além disso, Pinhead se mantém na mesma imponência de sempre. Além disso, a ideia de aumentar a mitologia da franquia, agregando o Labirinto, assim como o Leviatã por exemplo dão força para guiar o roteiro e o espectador em curiosidades ainda maiores deste mundo. Ver outras Configurações do Lamento, assim como cenas do retorno dos Cenobitas e de Julia é sem dúvida imponente.
Entretanto, a história não consegue seguir o padrão do antecessor. A inclusão de um novo antagonista sem o mesmo carisma de Pinhead é uma das falhas da parte final do longa. Além disso, a ideia de sair do sobrenatural e migrar lentamente para algo ao estilo slasher, tal como Sexta Feira 13 e a Hora do Pesadelo fazem Hellraiser II: Renascido das Trevas perder um pouco de sua essência. Além disso, as atuações também não podem ser chamadas de gratificante, sendo responsáveis apenas para que a narrativa prossiga. No fundo, a inclusão de personagens secundários desnecessários assim como a ideia a disputa de gato e rato dentro do Inferno não trazem novidade alguma. No fim das contas, o sangue ainda escorre em Hellraiser II: Renascido das Trevas em larga escala, e parte de sua qualidade se mantém. Porém, ainda assim é inferior ao original, porém não ruim.

Veja mais no Guariento Portal se gostou deste Revisitando ao Passado. Desta vez, com um longa que continua a história dos Cenobitas. Continuação do clássico de 1987, Hellraiser II: Renascido das Trevas. Não deixe de comentar também, pois é muito importante para o crescimento e desenvolvimento deste Portal!
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* Hellraiser: Renascido das Trevas está disponível por meio do sistema de streaming da Amazon. Assim como o primeiro filme. E, a título de curiosidade, Pinhead não deveria ser o vilão da franquia, nem o desta continuação. Na verdade, os escritos iniciais colocavam Julia Cotton como a vilã “oficial” dos dois longas, sendo que neste ela renasceria como a Rainha do Inferno. Contudo, como Pinhead ganhou tamanha popularidade, o roteiro foi então reescrito para que o grupo dos Cenobitas tornassem a ganhar ainda mais os holofotes.
Números
Hellraiser II: Renascido das Trevas (1988)
Hellraiser II: Renascido das Trevas surge um ano após o primeiro filme, mantendo suas raízes e mitologia, mas com erros de roteiro.
PRÓS
- Efeitos plásticos e técnicos ainda melhores com um orçamento melhor.
- A mitologia dos Cenobitas e de sua dimensão é aprimorada.
- Pinhead continua o mesmo, assim como seu grupo sadomasoquista.
CONTRAS
- O roteiro se perde ao buscar mais um lado slasher do que o ambiente sobrenatural.
- Atuações dos personagens continuam muito aquém do possível.
- Tantos antagonistas que o próprio Pinhead perde importância no roteiro.
- Personagens secundários completamente desnecessários.