Não é de hoje que games acabam sendo censurados por algum motivo em determinados países. Seja por serem extremamente violentos ou com conteúdo minimamente perturbador, como o caso do título Manhunt, da Rockstar Games. Ou então de surtos coletivos, como a franquia Pokémon da Nintendo nas terras da Arábia Saudita. No entanto, dentro dessa lista que vai do razoável ao absurdo temos a franquia Wolfenstein, já dita nesta lista como um primoroso game em relatar como se deve bater um papo com uma nazista. E, justamente por tratar de um mundo distopico em que o Reich Alemão venceu a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), não só um game, mas também a franquia inteira sofreu censura na Alemanha – e também na Áustria. Mas calma, se você não está na Alemanha, não entraremos para catar sua cópia ilegal não. Mas se prepare com mais uma Curiosidade do Guariento Portal.
Atenção: Assim como na Alemanha, no Brasil qualquer uso de símbolos ou saudações que remetam ao regime de Adolf Hitler é crime. Aliás, estipulado na Lei Federal nº Lei 9.459 de 1997. Então, nada de fazer saudações com a mão levantada com outros coleguinhas na rua. E sequer usar estrelas para marcar o comércio do colega que não votou em seu candidato. Tudo isso remete ao nazifascismo. E não adianta chorar ou reclamar, o ideal é estudar esse período para que você claro leitor não tenha dúvida do quão malévolo foi o período nazista em todas as suas esferas. E de como seus tentáculos, bem ao estilo da Hydra ainda reverbera nos dias de hoje. Dito isso, vamos de programação normal. Ou seja, falar de games que a gente ganha mais.
Na terra onde o horror nasceu, tudo é visto como tabu.
Para começo de conversa, a franquia Wolfenstein é vovô dentro do mundo dos games. Seu primeiro game foi Castle Wolfenstein, em 1987. Porém, o supra-sumo do estilo tiro em primeira pessoa, mais conhecido como FPS, ocorre em 1992, com Wolfenstein 3D e disponível na Nuuvem. Que aliás foi produzida pela id Software, a mamãe de outros games desse estilo, como Doom e Quake, que você também pode comprar aqui e aqui. No entanto, o que o diferencia é que não temos uma invasão demoníaca, mas sim nazistas prontos para serem despedaçados na bala em Wolfenstein 3D. Essa violência, e o óbvio uso de suásticas durante todo o game fizeram com que o título não fosse bem-visto na Alemanha. Sim, uma das maiores potência da Europa e do mundo possui uma rígida legislação quando o assunto é nazismo. E sabe como ninguém o que sofreu no período do Terceiro Reich.
No entanto, como praticamente tudo que usa uma cruz gamada ou uma suástica é sumariamente banido na Alemanha, Wolfenstein também o foi. Nem mesmo um pacote de expansão lançado em 1997 foi lançado na Terra do Muro de Berlim. O mesmo aconteceu na Áustria, que também possui uma legislação própria, porém também rígida. Afinal, durante a Segunda Guerra Mundial, as duas nações foram unidas através do Anschluss, anexação promovida por Adolf Hitler antes do conflito que iria pôr o mundo contra o nazismo. Assim, Wolfenstein 3D até tentou ter seu lançamento na terra da Oktoberfest original, mas foi sumariamente barrado. Ele só pode ser lançado oficialmente em 2019, mas entraves burocráticos fizeram com que Wolfenstein 3D só fosse jogado de maneira oficial na Alemanha em 2022.
Para lançar, tem que fazer alterações. Senão é banimento.
E, por mais que estamos falando da primeira aventura em 3D deste mundo, praticamente toda a franquia desde então sofreu com os mesmos problemas. Porém, os desenvolvedores tiveram ações distintas para tentar conter a legislação germânica. Wolfenstein, a reinvenção da franquia na mão da americana Raven Software lá em 2009 também sofreu bloqueios na Alemanha, até que a franquia adentrou nas mãos da Bethesda e da sueca Machine Games, que trouxe como nunca antes esse mundo distópico de volta para o que há de melhor no mundo dos games. Porém, Wolfenstein: The New Order (PC, Xbox One e PS4) conseguiu ser lançado na Alemanha e na Áustria. Porém, não contava com nazistas. Qualquer menção do Reich foi chamada simplesmente de Regime e o bigodinho foi chamado de Chanceler ou de Líder. Tudo que ligasse ao Regime Nazista foi completamente removido.
Mas não somente isso. A Bethesda pode ter conseguido o primeiro lançamento da franquia nesta região, mas chegou a travar o game para esta região, seja pelo IP como fisicamente. Ou seja, todo o jogador que estivesse em território alemão não conseguia jogar uma cópia de Wolfenstein: The New Order que não fosse aquele destinado ao território alemão. Nenhuma cópia internacional funcionava na Alemanha. Nesta versão aliás, não havia multiplayer, o que seria um completo caos ao misturar gente de todo o canto do planeta em uma única sala. E olha que o lançamento de New Order ocorreu em 2014, e mesmo assim, as leis não da Alemanha não foram alteradas. Na verdade, existe certa pegadinha dentro do direito alemão que proibia games de versarem sobre o nazismo e seus símbolos.
Wolfenstein na Alemanha sempre era diferente do resto do mundo.
Não que o Regime Nazista não possa ser falado na Alemanha. Porém, ele deve ser usado em caráter científico ou para estudo em livros, filmes e revistas. Nesses casos específicos, você não estará burlando o Artigo 68 do Código Penal Alemão, que é absoluto em vedar qualquer uso de saudações, formas, desenhos e slogans usados na década de 30 do século passado. No entanto, você percebeu que o termo “videogames” ou “equipamentos eletrônicos” não se encontra dentro das possibilidades. Por isso mesmo é que, embora seja uma aventura narrativa, ainda assim não havia uma exceção na Alemanha que permitia que games com esse escopo fossem lançados. Tanto é que Wolfenstein: The New Colossus (Switch, PC, PS4 e Xbox One), a continuação de The New Order, porém lançado em 2017 pela mesma Bethesda também sofreu com algumas alterações.
O caso de Wolfenstein: The New Colossus foi menos problemático, pois já havia certo entendimento de que se poderia alterar a legislação germânica para que o game pudesse ser lançado na íntegra. E também que a maior parte do título se passa em um Estados Unidos da América dominado pelo Nazismo. No entanto, ele ainda sofreu com algumas modificações. Adolf Hitler, por exemplo, perdeu o seu bigode, enquanto a suástica ganhou um emblema completamente diferente do original. Só assim que a Bethesda conseguiu se adequar a legislação. Agora, se esperassem um pouco mais, quem sabe poderiam lançar de maneira integral o game. Afinal, esta mesma Lei que permitia o uso do nazismo em livros e revistas foi alterada para incluir games em 2018. Assim, desde que para caráter educativo, games também poderiam usar as principais imagens do Terceiro Reich.
Somente em 2018 que os games puderam usar imagens do Reich.
E quer um caráter mais educativo do que bater em nazistas? Bem, tirando esse pequeno efeito prático, claro que Wolfenstein como franquia trás o Terceiro Reich como completo antagonista das aventuras de William Joseph “B.J.” Blazkowicz. Logo, não se trata de propaganda nazista, mas o uso através de uma mídia para criar um mundo distópico. Que de fato seria se Hitler ganhasse os eventos da Segunda Guerra Mundial. No fim das contas, essa censura sofrida por Wolfenstein pode para alguns ser descompensada, para outras corretas. Fato é que o nazismo ainda é algo extremamente controverso de ser mencionado na Alemanha, país que sabe o que de fato é o nazismo. Então, que sirva de entendimento que nem toda censura é descartável ou é simplesmente um cerceamento do direito de falar o que quer. E essa linha tênue entre o correto e o errado é que é difícil de encontrar.
Franquia braba demais. E sim, faz sentido total a Alemanha ter problemas com essa temática. A história mostra o quanto eles sofreram.
De fato é possível entender como o nazismo é problemático de ser falado na Alemanha – e pode botar a Áustria também. Mas serve aqui no Brasil (já que acredito que por você já ter falado outras vezes) e ser de Portugal, é necessário especialmente para uma galera aqui que olha, vou te falar, fica complicado mostrar que as saudações feitas não são um bom sinal.
Acho que consigo entender-te. E sim, estou em Portugal, mas vi os últimos noticiários especialmente do período eleitoral. Tens certa razão de mostrar que o mal não podes ser esquecido.
Sim, ainda mais aqui no BR que a situação não está lá tão amigável. Mas enfim, que bom que tenha gostado, e ademais, já jogou esse game?
Olha, entrei aqui pelo Tumblr para saber mais de Wolfenstein. Primeiro, parabéns pelo post. Segundo, de fato, pude ir ano passado em Frankfurt para estudo e de fato, é extremamente complicado qualquer coisa lá sobre o Nazismo. Inclusive, não sei se você sabe mais até meia o Mein Kampf, o livro do Hitler perde o período de autoria, mas o Estado da Baviera não está querendo liberar ao público justamente por isso.
Quanto ao jogo, Wolfenstein é maravilhoso. O New Colossus e melhor que New Order, vai por mim!
Olá Joyce, primeiramente prazer em conhecer você. Segundo, que bacana que você conseguiu ir até Frankfurt. Tempos atrás, eu fiz um trabalho sobre a Propaganda Nazista, e devo dizer que isso ainda é um mega tabu. O Mein Kampf com toda certeza ainda vai ser palco de muita contenta ainda.
Meu irmão como sempre conseguindo unir assuntos tão diferentes. Nesse caso tanto games quanto o Regime Nazista! Vai nessa meu irmão.
Claro que sim né Vitória. Você acha que eu deixaria isso passar ainda mais com um bando de loucos no Brasil ultimamente fazendo saudação nazista? Mas nunca! Nazista tem que ser tratado como se vê em Bastardos Inglórios e nessa maravilhosa franquia de games. Simples assim!