Se perguntar a alguém sobre os clássicos do slasher, é muito provável que digam Halloween dentre as alternativas. O filme original, produzido em 1978 marcou o gênero de assassinatos em massa com um serial killer, o slasher. Produzido por John Carpenter, tendo inclusive sua trilha sonora marcante, o filme apresenta Michael Myers, jovem disfuncional que mata, ainda na infância sua irmã em uma noite de Halloween. Aos poucos, tanto a ciência quanto o enredo indicam que aquela criança, agora crescida é a personificação do mal. Até que a jovem Laurie Strode, vivida por Jamie Lee Curtis passa pelo seu caminho, em uma noite de tormentos. Agora, trinta anos depois dos acontecimentos, Laurie está completamente mudada, e Myers preso. O embate entre essas duas forças é a chave do novo Halloween (2018). Resta saber como se sai nesta narrativa.
Laurie Strode está ainda mais badass do que antes, embora não muito bem da cabeça:
Primeiramente, Halloween (2018) esquece completamente toda a narrativa de títulos após o original de 1978, marcando-se como uma continuação deste. Aqui, Laurie Strode sobrevive a noite de assassinatos, mas sai com sérios transtornos psicológicos que lhe trazem prejuízo na vida. Vivendo isolada com armadilhas em todos os cômodos, Laurie sabe que mais cedo ou mais tarde, Myers irá fugir de sua prisão e ir atrás dela. Essa sua obsessão inclusive lhe afasta de sua família, fazendo com que a protagonista seja sem dúvida disfuncional. Contudo, isso é um charme do roteiro no momento em que cria uma personagem “badass”, mas que tem suas próprias angústias devido ao passado sombrio. Sem dúvida alguma, o filme tem como ponto alto tanto a atuação de Jamie Lee como também as interações vividas por sua personagem.
Desde o início, e por mais que ela apresenta esse aspecto perturbado, é interessante notar que Halloween (2018) em determinados pontos inverte a lógica de gato e rato. Por ser a personagem principal, seria comum acreditar que Laurie seria a isca da vez, afinal, o gênero slasher se marca desta forma. Contudo, a personagem é armada e tem toda uma estratégia contra o serial killer, fazendo com que nem sempre o assassino seja de fato o caçador. Assim, alinhado a psiquê da personagem, temos um slasher que busca contornar essa ideia de personagem indefeso. Laurie sabe o que está fazendo, tem convicção e a habilidade para enfrentar o assassino de três décadas atrás. E isso ela leva até as últimas consequências, mesmo que leve a sua família a se afastar de sua presença.
Enquanto Michael Myers está ainda mais imponente do que na primeira noite de Halloween:
Já Michael Myers está tão assustador quanto em sua primeira aparição, fruto tanto do tamanho do ator quanto da direção do longa. Entenda que nem sempre, para causar medo é preciso uma imagem assustadora na tela. O primeiro ato, que apresenta os repórteres enquanto Myers está na prisão é um ótimo exemplo de como o suspense fica enervado no espectador. Myers não fala, sequer seu rosto aparece, mas sua presença já é o suficiente par indicar o que está por vir. É interessante destacar que até a metade do segundo ato, a icônica máscara do personagem não está com ele. Mesmo assim, ele não se apresenta como uma ameaça inferior estando seu o seu artefato. Claro que após a obtenção do objeto, partimos para uma verdadeira enxurrada de assassinatos em mais uma noite em Halloween (2018).
Quanto a direção e a fotografia, Halloween (2018) pode ser considerado uma ode ao original. Não por menos, até sua introdução é uma remasterização do original. Contudo, ele tem sua própria história, fazendo uma ligação entre o novo e o antigo. A direção usa de momentos de planos sequência com a trilha sonora marcante da série, mas como uma homenagem, embora não passe um fator de angústia tão grande quanto em outros momentos. Além disso, por ser uma noite de Halloween os ambientes se utilizam muito deste fator, da penumbra e da sombra para esconder momentos de alta tensão ou de assassinatos. O longa valoriza bastante esses momentos. David Gordon Green, que assume a cadeira de direção em seu primeiro filme de terror acerta na maior parte das vezes. São apenas alguns momentos de excesso de escuro que inibem uma melhor apreciação do espectador.
Mesmo assim, Halloween (2018) esbarra com força em diversos clichês:
Até o presente momento, Halloween (2018) apresentou qualidades contundentes. Contudo, ele não está imune aos seus defeitos. E um deles, de certa forma, é o seu roteiro, que merece uma análise específica sobre certas contradições. Primeiramente, o roteiro tem momentos que se auto sabota, oferecendo certa perspectiva de algum personagem sendo frustrada logo em seguida. Após esse acontecimento, o roteiro retorna para a mesma perspectiva. Isso pode ser visto claramente com Laurie Strode, a personagem que sem dúvida é a representação da franquia junto de Myers. Como já dito, Jamie Lee faz uma atuação excelente mostrando diversos espectros de sua personagem. No entanto, em grande parte do segundo ato, Laurie simplesmente desaparece de tela, dando tempo para outros personagens que simplesmente aparecerem para morrer.
Sendo assim, Halloween (2018) desembarca para uma série de clichês que podem até ser a cara do cenário slasher, contudo, fazem com que o filme perca no embate psicológico. Obviamente após a fuga da prisão, Myers, como o mal encarnado, tem que matar, e matar muito. Porém, na forma em que é mostrado somos levados a uma lista de personagens completamente desconhecidos que simplesmente aparecem no longa para morrer. Não há carisma e sequer história para estes, apenas as mãos de Michael Myers. Assim, todo o embate físico e psicológico de Laurie e do assassino é deixado para o último ato. Isso não quer dizer que o longa não poderia ter usado os clichês, até o faz de maneira contundente em certos momentos. Contudo, afastar a história principal para uma onda de assassinatos durante a maior parte do filme deixa claro que faltou substância na narrativa.
Dois filmes em um. Mas não pelo fator positivo:
De forma simples, temos dois filmes de Halloween (2018) dentro de um. O primeiro apresentando o embate que de fato é o cerne da narrativa, no primeiro e no terceiro ato. Já o segundo ato fica para o frenesi de sangue de Michael Myers. Não é que essa parte seja ruim, tendo até uma contraposição de momentos cômicos com assassinatos logo em seguida. Dando uma equilibrada em tudo, mas é que de maior interesse é a história da final girl e de seu carrasco. O terceiro ato, de fato, retorna com toda essa importância, em um jogo de gato e rato que mostra a estratégia de décadas de Laurie. No fim das contas, mesmo com sua disfuncionalidade, tudo que ela fazia era para assassinar Michael e proteger sua família. Mesmo que o longa termine com um final que deixa brechas para um possível continuação.
No fim das contas, o embate de Strode e Myers merece ser visto e é um frescor para a franquia:
Assim sendo, Halloween (2018) se destaca sem dúvida como um ótimo retorno do gênero slasher dentro dos cinemas. Com qualidade superior de outras refilmagens e remasterizações como A Hora do Pesadelo e Sexta Feira 13. Seu trunfo principal é criar uma narrativa dentro da história já conhecida de Laurie Strode, mostrando o que aconteceu com ela em mais de trinta anos. Suas facetas disfuncionais caem muito bem na trama, a espera de que Myers fuja da prisão e persiga ela e sua família. A dinâmica desta dualidade é bem produzida, e que de fato segura o filme e faz com que o espectador fique imerso na narrativa. Claro que isso é auxiliado por momentos de tensão no longa, produzidos pela boa direção e fotografias em tons sombrios, além da já citada música tema, que demonstra o quão perigoso é Michael Myers.
Aliás,também é necessário dar os louros ao Myers. Mesmo sem ver seu rosto, seu corpo robusto e sua presença já deixam marcados sua imponência e do perigo como mal encarnado que representa. Infelizmente, o grande ponto negativo do longa é essa dualidade que faz com que o filme seja repartido em dois. Um em que temos um embate psicológico, físico e até emocional da final girl sobrevivente, e outro que apenas usa e abusa de clichês do gênero para encenar mortes, algumas que usam bastante gore. Percebe-se que a narrativa se perde neste aspecto, e o espectador também pode achar que está vendo outro filme ao invés do início de Halloween (2018). Mesmo assim, no contexto geral, o longa se apresenta como um ótimo retorno da franquia, merecendo sem dúvida ser visto.
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Gostou da Análise desse filme? Então, se você gosta de Halloween (2018) também pode gostar de outros longas do mesmo gênero. Veja então o especial de Annabelle do Portal, com a análise do filme 1, 2 e 3. Além dele, temos grandes nomes como O Exorcismo de Emily Rose, A Freira e Quando as Luzes se Apagam. Agora, se você não aprecia nenhum destes gêneros, não se preocupe, pois Michael Myers não irá atrás de você! Você pode conferir os nossos especiais sobre Indiana Jones, com a tetralogia envolta no arqueólogo mais famoso do cinema. Da Arca da Aliança, do Templo da Perdição, sua Última Cruzada e a Caveira de Cristal. Já para os amantes da animação, além de Castlevania, série disponível na Netflix, temos o especial de Cavaleiros do Zodíaco. Veja Seiya e os outros lutarem contra Éris, Odin, Abel e Lúcifer em cada um de seus filmes.
Números
Halloween (2018)
Continuação direta do original de 1978, Halloween (2018) é uma homenagem ao gênero slasher de Myers e de Strode, evoluído e com substância.
PRÓS
- Excelente atuação de Jamie Lee Curtis e a imponência de Myers.
- Inversões momentâneas do jogo de gato e rato, atraindo o espectador.
- O mesmo suspense mantido do original de 1978.
- Boa direção ao criar momentos certos de dúvida e de expectativa.
CONTRAS
- Dois filmes em um, o enredo muda drasticamente em seu Segundo Ato.
- Mesmo que acerte em alguns clichês, há um abuso deste item no Segundo Ato.