Quando se fala em Mitologia Grega e no astro Rei, inegável que o nome de Apolo sempre apareça. Afinal, além de belo, patrono do Oráculo de Delfos e com um milhão de funções que nem Daenerys Targaryen de Game of Thrones, Apolo era o deus do Sol para os antigos gregos. E não o Sol personificado! Nesse caso, quem os gregos tinham era Hélios, de onde vem termos como heliocentrismo e heliosfera. Entretanto, Cavaleiros do Zodíaco gosta de fazer uma salada mitológica, juntando o extremo norte com uma pincelada em algumas camadas com o budismo e por que não a Mitologia Caananita? Desse último, não temos propriamente o nome de Abel, mas sim um título, Bel. Abel na verdade é o autoproclamado deus do Sol, mas essa história é mais bem explicada com as raízes mais profundas que a de Yggdrasil desse personagem rival e irmão de Athena.
Surge um novo personagem no Santuário da Grécia: Abel, irmão de Athena. Na era mitológica, Abel assumiu o posto do deus do Sol, mas como era muito ambicioso, foi destruído por seu pai e pelo deus Apolo. Agora ele está de volta, e como vingança quer destruir a Terra. Para isso ele terá de dominar sua irmã Athena. Em defesa da Terra e da deusa Athena, os Cavaleiros do Zodíaco se reunirão nesta nova aventura…
Descrição do Narrador em Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda dos Defensores de Athena.
Abel não existe em nenhuma mitologia. Mas pode ter origem em Canaã.
No filme Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda dos Defensores de Athena, filme animado de 1988, o espectador é apresentado a um novo personagem no Santuário da Grécia. O nome desse dito cujo é Abel, colocado como irmão de Athena, e assim, tecnicamente, filho de Zeus. Entretanto, diferente da própria deusa da Justiça e de seus outros inimigos como Éris, Poseidon e Hades, Abel sequer é um nome grego. Etimologicamente ligado aos povos semitas, Abel (הבל) em Hebraico, é um nome importante por participar do primeiro fratricídio da história bíblica, sendo este morto por seu irmão, Caim. Mas não é essa exatamente a entrada do deus do Sol, e sim a partícula Bel, traduzida como “Senhor”, usado para diversas divindades do Oriente Médio nas épocas da Assíria, da Suméria e da Babilônia. É daqui que também surge o termo (בַּעַל), traduzido como Baal, também visto como Senhor ou uma deidade fenícia.
Abel então, no filme de Cavaleiros do Zodíaco, seria o “Senhor” de alguma coisa. Porém, o título de deus do Sol não foi dado de grado pelos membros do Olimpo. Na narrativa da animação japonesa, Abel simplesmente se colocou como deus do Sol, e ficou por isso mesmo pelo seu imenso poder. Não por menos, foi necessária a união de Zeus, tecnicamente seu pai e de seu irmão Apolo para destruir Abel. Até mesmo seu segundo título, Febo é roubado de seu irmão verdadeiro mitológico. Febo era como Apolo era chamado na Roma Antiga, onde o pessoal da Península Itálica fez um intercâmbio generoso com a Grécia. O verdadeiro Apolo inclusive só apareceria em Cavaleiros do Zodíaco tempos depois, no filme Prólogo do Céu que não teve continuação alguma e ficou por isso mesmo. Fato é que Abel não é um personagem que existe em qualquer mitologia.
Em Cavaleiros do Zodíaco, Abel adquire o título de deus do Sol.
Juntando todas estas possibilidades, há ainda uma entrelinha dentro da Mitologia Grega na questão do nascimento de Athena. Para quem não conhece, Zeus ficou com medo de ter o seu trono roubado – da mesma forma que seu pai Cronos e seu vovô Urano – pois uma profecia tinha dito que do fruto de sua primeira esposa, Métis, nasceria o futuro rei do Olimpo. Zeus então em um jogo de transfiguração que daria inveja a professora Minerva McGonagall fez Métis se transformar em uma mosca, e a devorou. A questão é que Methis estava grávida de uma menina, e não de um menino. Essa mesma menina mais tarde nasceria formada, de armadura e tudo após uma machadada de Hefesto na cabeça de Zeus, que reclamava de muita dor de cabeça. Assim, esse “filho que foi prometido” poderia ser sim Abel, em uma realidade paralela em que ele também nascera de Métis.
Nas eras em que revistas de animes eram comercializadas no Brasil, houve a difusão de que Abel era baseado em um deus babilônico do Sol, e dentre seus poderes estava a leitura de mentes dos homens e obviamente, o controle de seu elemento principal. Como dito, tal fato é um erro grosseiro. Abel é uma amálgama de diversas entidades – muitas delas próprias de fato daquela região do mundo, de maioria semita – assim como da Mitologia Grega. Mas isso não impediu que o personagem tivesse um background. Depois que renasceu, fruto da vontade dos deuses de destruir a Terra, pela terceira vez dentro da franquia depois de Éris e sua Maçã da Discórdia e de Odin com seu representante Durval na Grande Batalha dos Deuses. Porém, a ambição de Abel seria um problema.
Assim como Thanatos e Hypnos, Abel adora instrumentos musicais.
O Cosmo de Pégasus elevou-se até o infinito… Espero que não pense que possa ultrapassar meu Cosmo… Isso seria uma loucura! Não seja tolo! Não seja irreverente! Acha que pode superar um deus?!… O que eu não entendo, é por que estou com medo?… Por que, por que eu não consigo sentir ódio de alguém que está prestes a me matar? Sinto vontade de reconhecer o seu valor e a sua coragem para perdoá-lo! Por acaso será esse o meu destino?
Abel ao ver o Cosmo de Seiya se elevar e disparar a flecha de Sagitário em A Lenda dos Defensores de Athena.
Por mais que sua aparência seja de uma entidade calma, que pouco se atreve a mostrar raiva, Abel definitivamente era ambicioso. Pensando da mesma forma que outros deuses que não Athena, os seres humanos já se corromperam de tal maneira que era necessário destruir a Terra. Mesmo assim, quando próximo de Athena e mesmo depois que se tornaram rivais, o deus Sol ainda demonstra sentimentos de afeto e carinho para sua irmã. Mesmo que o resto da humanidade não tenha um décimo de sua compaixão. Estranhamente, diante da flecha de Seiya de Pégasus apontada, ele não demonstra raiva ou ódio perante os homens, mesmo que fale abertamente do medo de morrer. Essa ambivalência é comum em contos dentro e fora da Mitologia Grega, basta ver o quanto de casos e situações comuns Zeus, por exemplo, se envolveu.
Embora com seu próprio filme, Abel termina como qualquer outro deus.
Depois dessa ressurreição provocada, Abel ressuscita dentro do filme A Lenda dos Defensores de Athena os Cavaleiros de Ouro mortos na Batalha das Doze Casas. Mas ele também tem seus próprios guerreiros, membros da Coroa do Sol. Claro que se nas constelações que a luta vai começar e aqui o bem e o mal até um deles ganhar é o mote de Cavaleiros do Zodíaco, temos novamente os cinco jovens de bronze lutando contra seus adversários para salvar Athena pela quinquagésima vez. No fim, como sempre ele, Seiya salva Saori Kido, a reencarnação de Athena das mãos de Abel, muito ajudado por Hyoga de Cisne com a Armadura de Aquário e Shiryu de Dragão com a Armadura de Libra. O deus tem uma flecha atirada no seu peito e morre de maneira anticlimática com um enorme quadro de pedra caindo em cima dele.
Porém, esse não é realmente o fim de Abel. Acrescentando mais um temperinho cheio de sal, Abel retorna no que seria o fim de Cavaleiros do Zodíaco com o filme Os Guerreiros do Armageddon. Aqui, com as derrotas de três deuses “gregos”, Éris, Poseidon e o próprio Abel, Lúcifer, o Anjo Caído do cristianismo renasce. Temos mais uma vez uma batalha entre os Cavaleiros de Bronze e agora os anjos caídos do diabo. Porém, se antes Abel era um deus calmo, ao ser um dos apoiadores de Lúcifer, o deus Sol passou a ter um sorriso incomum e curtindo o desespero humano em um sarcasmo perturbador. É claro que depois da derrota de Lúcifer, Abel volta ao limbo para sempre. Mesmo com os furos bizarros de roteiro deste filme, esse é o fim de Abel, o deus do sol que enfim não é deus do Sol em nenhuma mitologia.