O ano era 1989 e Steven Spielberg já tinha conseguido a façanha de conceituar o gênero aventura com Indiana Jones. A parceria com George Lucas havia dado bons frutos, com um aclamado primeiro episódio e com um segundo mais soturno e com uma pegada distinta. Contudo, buscando encerrar por meio de uma trilogia (que depois seria revivida em 2008), a dupla se une novamente em mais uma aventura do arqueólogo Henry Jones, que desta vez viaja o mundo em busca do Santo Graal. O mítico cálice que Jesus Cristo teria usado na Última Ceia e que daria poderes sobre humanos. Os acontecimentos passam em 1938, e temos novamente o regime nazista como a grande figura maquiavélica de todo o longa. Além disso, a participação do pai de Jones. Logicamente, com todo esse ímpeto de terminar a série em alto estilo, é necessário verificar se este foi o resultado alcançado.
Primeiramente, Indiana Jones e a Última Cruzada quebra com o seu antecessor, o Templo da Perdição e aposta em uma aventura mais ensolarada como a vista em Os Caçadores da Arca Perdida. O tom sombrio e nada amistoso desaparece, até mesmo na fotografia e direção, vibrante e colorida é claro, e que não despreza o cinema de aventura. Entretanto, o roteiro ainda se utiliza de momentos de tensão retirados do segundo longa, como calabouços escuros e cheios de animais, momentos mais densos, mas que em nada transferem uma sensação de horror ao longo. Em nenhum momento isso acontece. Novamente, Harrison Ford está no papel principal e sua atuação está ainda melhor do que antes. Praticamente é impossível acreditar na existência de outro ator que possa fazer o papel do arqueólogo de maneira mais sóbria que ele.
O Cálice Sagrado precisa ser encontrado, e rápido:
Agora, o que encanta de fato em a Última Cruzada, além da história que definitivamente é bem montada é a atuação e a apresentação do arco entre o pai e o filho. Desde o primeiro ato, somos colocados a identificar o espírito aventureiro, embora nada hostil de Henry Jones Jr. Depois de um bom tempo, é Henry Jones, interpretado por Sean Connery que dá as caras no longa. E de forma sensacional, a interação entre os dois é vibrante, embora sejam completamente distintos. Indiana é um home de aventura sem deixar de ser inteligente, já seu pai é um puro acadêmico, que dificilmente faz pesquisas de campo. O tom cômico levantado pela interação de ambos da o norte completo do filme, que equilibra de forma praticamente perfeita a ação, o conflito e até mesmo gargalhadas entre a interação de pai e filho.
Até mesmo os personagens ditos vilões não são extremamente caricatos. Aqui, a Segunda Guerra Mundial está a um ano de acontecer. Os nazistas de fato são os vilões. Entretanto, não há necessidade de um homem vestindo ternos escuros e com uma cara vilanesca apareça. Por mais que ele exista. Todo o arcabouço da tirania do regime nazista é bem representado em praticamente uma cena, quando o próprio Indy e seu pai vão para Berlim e encontram uma cerimônia de queima de livros. Como o direito é claro da aparição do próprio Adolph Hitler. Esse sem dúvida é um dos poucos momentos onde a atmosfera de Última Cruzada muda justamente para demonstrar que aquele lugar é maligno. No entanto, quando Berlim é deixada de lado, a fotografia e iluminação se mantém da mesma forma vibrante.
A qualidade do roteiro permite uma interação excelente entre pai e filho, sem esquecer da aventura:
Os enigmas e toda a aventura por trás da história do Santo Graal são realmente inteligentes. As pistas não são de todas fáceis, e pela primeira vez, Indiana Jones precisa do apoio de alguém para entender o que está acontecendo. Que no caso é o seu pai, o verdadeiro perito do Santo Graal. Embora não apareça tanto quanto o primeiro objeto milagroso, a Arca da Aliança, o objeto tem toda uma importância que guia perfeitamente a estrutura narrativa. Até mesmo as falas de Henry Jones quando da possível identificar dos nazistas ao cálice e do que ele poderia fazer são bem estruturadas. Essa tática do roteiro em mesclar momentos de alta tensão com falas sóbrias e depois com um humor mantém magnetizados o espectador na poltrona. Não por menos, Spielberg basicamente conseguiu trazer tudo que tinha dado certo na franquia nesta sequência.
Além disso, há de se mencionar o roteiro, que junto com a trilha sonora, não permitem a queda da qualidade e da sensação de ação a todo o momento. Indiana Jones e a Última Cruzada abusa de momentos de aventura ao extremo, sem nunca enjoar. Indiana Jones, seja sozinho ou acompanhado sempre está em perigo, e isso não é novidade para ninguém que o acompanha. Contudo, as cenas, especialmente as que apresentam efeitos práticos tornam toda a situação ainda mais crível e interessante. O único defeito deste mesmo roteiro é de que, por mais que as cenas de ações sejam muito bem intercaladas, há uma certa demora nos acontecimentos. Ele não é tão rápido e dinâmico, e é possível sentir uma certa fadiga em determinados pontos da narrativa. Claro que nada disso tira o enorme brilho desta sequência.
Um encerramento digno de uma das maiores séries de aventura do cinema:
O grande trunfo de Indiana Jones e a Última Cruzada é se apresentar como uma excelente finalização de uma franquia que definiu o gênero aventura. Não por desconsiderar tudo que já foi feito, mas por manter aquilo que de fato deu certo. Os enigmas intrigantes, uma situação inusitada e personagens adoráveis fazem com que o espectador seja imerso nessa aventura, que atrelado a um objeto fascinante, transformam a narrativa em um deleito para os apreciadores de aventura. A interação de Harrison e Sean é mágica e, mesmo sendo completamente diferentes, não tem como indicar um melhor momento que alivia o estilo cômico já conhecido com momentos de pura tensão. Ver pai e filho em uma interação com momentos de família transforma a situação em ainda mais crível. Nem mesmo no ato final, quando há a necessidade de uma dose emocional é possível não se encantar pelos personagens.
Novamente utilizando-se mais de efeitos práticos, o filme a todo o momento deixa uma sensação de realidade ao apostar nisso. Ponto extremamente importante para um gênero de aventura como vinha sendo observado em Indiana Jones. Até a manutenção das câmeras, mais aceleradas em momentos de fúria, mas que não deixam a tela tremida para que o espectador consiga entender cada posição de personagem. O final também termina a série de forma brilhante, com um certo toque sobrenatural. E, é claro, com uma boa dose de enigmas necessários a serem desvendados. Se não fosse pelo roteiro, um pouco menos desafiador e menos regular que o primeiro longa, facilmente Indiana Jones e a Última Cruzada seria o melhor filme de toda a franquia. Contudo, ele ainda assim é excelente e consagra a franquia do arqueólogo como uma das mais belas do gênero aventura na história do cinema.
Números
Indiana Jones e a Última Cruzada
Fechando o ciclo da aventura, Indiana Jones e a Última Cruzada é um encerramento digno e cheio de ação para a franquia do arqueólogo.
PRÓS
- Ação e aventura consistente e rápida, sem sem impossível.
- A atuação de pai e filho alivia e ainda assim cria vínculo com o espectador.
- Direção e fotografia bem trabalhada durante todo o momento.
- Uso correto da inteligência de pai e filho com um roteiro inteligente.
- Rivais não são estereotipados, e sim bem usados na narrativa.
CONTRAS
- Roteiro acaba demorando a decolar em sua construção.