O mundo dos filmes de terror vive de suas obras clássicas, e dela deve respeito absoluto. Contudo, é comum que, com o passar do tempo, na busca de se manterem atuais recebam atualizações. It, por exemplo, a obra do palhaço Pennywise ganhou uma nova roupagem em dois longas metragens. E, o mesmo acontece com Brinquedo Assassino, conhecido por trazer ao mundo o boneco Chucky, conhecido de pesadelos de muitas crianças e adultos na década de 90. Antes de mais nada porém, a atualização do longa com sua nova roupagem de 2019 elimina temas mais voltados ao lado sobrenatural, trazendo a tecnologia como a ponta de uma interessante questão. Até quando ela de fato é algo despido de livre arbítrio, se encaixando inclusive com a atualidade e com ligações com O Exterminador do Futuro e Matrix. Resta saber se todos os seus componentes se unem nesta Crítica.
Tire a alma de um assassino em série. E coloque a tecnologia, está pronta a premissa de Brinquedo Assassino (2019):
Primeiramente, Brinquedo Assassino de 2019 tem a sua maior diferença em retirar o comportamento assassino do boneco de algo sobrenatural. No clássico de 1988 para relembrar, o boneco sofre um ritual vodu nas mãos do serial killer Charles Lee Ray, depois de ser morto em uma loja de brinquedos. A partir de então, o boneco cria um rastro de destruição ao matar, sem pudor algum todos aqueles que se encontram em seu caminho. Aqui, no entanto, elimina-se a alma assassina por uma inteligência artificial defeituosa. Buddie, o nome do novo boneco, é um faz tudo, se ligando a todos os equipamentos da multinacional Kaslan, da mesma forma que por exemplo, a Alexa da Amazon é capaz de fazer. Contudo, por defeitos de fabricação nem tão esporádicos assim, o boneco passa a ser despido da ideia do certo e do errado.
Assim, levando-o a situações egoístas e influenciado pelas ações daqueles próximos a ele. Aos poucos, o boneco, que outrora parecera inocente começa a trazer sua verdadeira identidade. Tal modificação é extremamente positiva ao retirar qualquer questionamento sobrenatural. Aqui, a máquina parece ganhar vida ao observar as atitudes dos humanos a sua volta. Raiva, mentira, fúria são apenas alguns dos sentimentos que o boneco passa a conhecer, mesmo sendo um boneco. O que inclusive o transforma em uma criatura ainda mais assustadora do que seu predecessor, pois indaga ao espectador a possibilidade de que qualquer boneco pode ser uma chave para tais acontecimentos. A direção de Lars Klevberg e o Roteiro de Tyler Burton Smith (que participou de It) são competentes em unir as amarras da narrativa.
Atuações mecânicas, mesmo que uma história que segue correta, mas em um caminho previsível:
Do lado humano, temos o garoto Andy Barcley, que remete diretamente ao guri de Toy Story pelo nome, interpretado por Gabriel Bateman. Além dele, sua mãe, Karen (Aubrey Plaza) como a família que terá problemas com o boneco. Ele, um garoto com problemas de audição e ela, uma vendedora da loja de bonecos da Kaslan que acaba pegando o boneco defeituoso para o seu filho. De maneira bem simples, as atuações são razoáveis, no momento em que o comportamento humano praticamente não tem tanto desenvolvimento. Boneco Assassino de 2019 coloca os holofotes em Chucky, enquanto todo o restante, inclusive Andy são deixados como segundo plano. Inclusive, ao trazer um garoto frágil com problemas físicos remete também a outros longas, como Annabelle 2: O Despertar do Mal. Porém, diferente deste, a história se perde no ponto em que ousa tentar escalar para o terror.
Fazendo uma comparação, Boneco Assassino de 1988 era assustador ao ponto de trazer uma premissa e uma direção competente, mesmo que em um estilo trash. O problema de remasterização de 2019 é que ela não se decide em qual dos caminhos ele busca se espelhar. De fato, as cenas dos assassinatos não devem em nada a títulos como O Massacre da Serra Elétrica pelo gore e a quantidade de sangue, porém são pontuais e o longa passa a maior parte do tempo na ideia de descobrir do que o boneco é capaz. Se por um lado, a história segue uma narrativa redonda, ela se torna simplória demais no momento em que o espectador passa a saber com antecedência tudo que acontecerá, inclusive o terceiro e último ato, que deve levar ao encerramento da história. É como se o espectador fosse em uma caminho reto, sem grandes expectativas.
Mortes de impacto trazem o aspecto trash, mesmo que em momentos oportunos o longa não se decida em revelar o que de fato é:
Em termos visuais, o filme usa dos momentos escuros com propriedade, isso é fato. Quando Chucky muda a cor de seus olhos e consegue se unir aos equipamentos eletrônicos em todo o local, a situação engrandece e destaca o perigo, especialmente no terceiro ato. No entanto, o Chucky de Brinquedo Assassino de 2019 é extremamente sarcástico, o que o colocava como um perigo terrível, da mesma forma que Freddy Krueger. Ao transformar a criatura em um simples robô muitas das necessidades de personagem acabam em desuso. Não que a personalidade do atual Chucky seja ruim, pelo contrário, ela é interessante pela forma que o longa criou sua premissa. Contudo, este não é o Chucky de 1988 e não deve ser levado desta forma. Pense como uma reimaginação da franquia clássico do Boneco Assassino.
Ainda em mente em aspectos visuais, como já falado a censura para 16 anos faz sentido. As mortes são impactantes e mostram até onde o boneco pode ir por sua amizade. A câmera parada, sem nenhuma tremedeira é ótima para entender o que acontece na tela, embora quando necessária ela consegue se movimentar de maneira que o espectador consiga entender os acontecimentos. De certa forma, Brinquedo Assassino consegue trazer uma nova roupagem com o Buddie com problemas tecnológicos. Ele não é isento de falha, de forma alguma, mas consegue se divertir como um terror trash com doses de mortes impactantes. Não espere em rever o boneco da década de 90 com humor ácido. Nem faria sentido com a premissa original dessa reimaginação da franquia. O fim, além disso, deixa claro a possibilidade de sequências dessa nova franquia, que embora tenha o nome de Chucky, é um novo Chucky.
É uma nova roupagem, com algumas baterias fracas. Mas Brinquedo Assassino (2019) não é de todo o mal. Esquecível? Talvez! Mas em nenhuma hipótese algum ruim!
No fim das contas, Brinquedo Assassino de 2019 é divertido naquilo que consegue divertir. Ao se questionar a tecnologia e até onde ela pode chegar. O subtexto é bastante inteligente ao abordar não criaturas sobrenaturais, mas o desenvolvimento humano na atual sociedade. Além disso, as cenas de fato são bem filmados, com os tons de escuro usados de forma correta. Não é que nem a Batalha de Winterfell em Game of Thrones! E, a sensação de que algo está errado permeia o filme desde o começo, causando um certo incômodo positivo no longa. Buddie só está fazendo tudo aquilo pois quer de fato se transformar no amigo de Andy, e para isso, ele vai até as últimas consequências. Isso, de um lado consegue assustar bem mais do que um assassino em série que transfere sua alma para um boneco.
Por outro lado, o trash em Brinquedo Assassino perde com a narrativa, que embora certa não é de grande empatia. Os personagens humanos estão presentes apenas como tela de fundo para Chucky, não criando tamanha empatia como poderia ser. Além disso, embora seja uma consequência de sua premissa, a personalidade de Chucky é enlatada, por mais que determinados momentos ele de fato assuste. No fim das contas, Brinquedo Assassino é interessante como um terror descompromissado em reviver uma franquia antiga de um novo modo. Existem cenas que de fato causam certa agonia, mas elas são pontuais, e Brinquedo Assassino fica em uma espécie de suspense que para alguns, especialmente os que gostam do gênero terror, pode se divertir. Assim, é possível recomendar o longa para uma sessão da tarde do gênero, sendo esquecível em pouco tempo. É mais provável que você lembre do Chucky de 1988!
Veja mais no Guariento Portal se gostou desta Crítica de Brinquedo Assassino de 2019. Saiba que o longa é uma reconstrução da franquia clássica do boneco Chucky de 1988. Não deixe de comentar também, pois é muito importante para o crescimento e desenvolvimento deste Portal!
Gostou da nossa Crítica com Brinquedo Assassino de 2019? Pois saiba que o Guariento Portal não vive só de games, mas também de filmes. Aqui, você pode encontrar análises de ambos os tipos. No mundo dos filmes, é interessante notar que me nossa aba de Revisitando o Passado, é possível encontrar críticas de filmes antigos, como O Enigma de Outro Mundo de 1982 e a franquia Indiana Jones, como O Templo da Perdição e Os Caçadores da Arca Perdida. Assim como A Freira e Verdade ou Desafio, outros filmes do gênero terror mais recente. Já em termos de análises de games, você pode gostar de outras análises, como e o caso de Hades, da Supergiant Games, Jotun: Valhalla Edition da Thunder Lotus, Spirit Camera: The Cursed Memoir, spin-off da franquia Fatal Frame para o Nintendo 3DS e Aragami: Shadow Edition no Xbox Series S.
* Brinquedo Assassino (2019) está disponível nos canais Telecine. A título de curiosidade, existe uma fobia para aqueles que tem medo de bonecos de ventríloquo ou animatrônicos. O nome de tal transtorno é Automatonofobia. O produtor desta análise e dono do Guariento Portal possui esse problema, porém, para o Brinquedo Assassino (2019) a situação foi desconfortável, porém assistível. Agora, infelizmente, vocês jamais verão uma Crítica de filmes como Gritos Mortais ou o próprio Brinquedo Assassino (1988). Isso será deixado para alguém, não tenham dúvidas!
Números
Brinquedo Assassino (2019)
Sendo um remake "diferente" do clássico de 1988, o novo Brinquedo Assassino aposta na tecnologia como o estopim do suspense de Chucky.
PRÓS
- O uso da tecnologia como estopim para a trama é interessante.
- Direção competente, com cenas de fácil entendimento e com alto gore.
- Divertido no momento em que decide o que quer fazer.
- História amarrada, centrada em Buddie, chamado de Chucky.
CONTRAS
- Intepretação aquém. Os humanos do longa só estão presentes como coadjuvantes.
- Falta de simpatia de Chucky, eliminando o caráter sobrenatural.
- O roteiro não se decide em qual gênero se agarra melhor.