Criar uma bomba atômica ou uma aclamação universal são dois parâmetros dentro do universo de filmes de terror. Embora a balança da perdição tenha uma tendência para um lado. De vez em quando temos ótimas histórias. É o caso dos clássicos vilões slashers Freddy Krueger de A Hora do Pesadelo (1984) e o Ghostface, de Pânico (1996). Por volta de 2001, quando o foco eram histórias orientais, como as franquias O Grito e O Chamado, o gênero slasher ganhou um novo componente com Olhos Famintos, de 2001. Desde 2017, a franquia ficou no limbo, retornando com Olhos Famintos: Renascimento (Jeepers Creepers: Reborn no inglês), em 2022. A questão é que esse renascimento é uma tragédia grega de Sófocles. Segure então os seus efeitos especiais de centavos com a Crítica do Guariento Portal do filme Olhos Famintos: Renascimento disponível na Paramount+ e da Play Arte Pictures que sangra os olhos.
O reboot tem roteiro de Sean-Michael Argo (Fable) e ele consegue em sua sapiência gerar diálogos vergonhosos e situações esdrúxulas que não ajudam os atores, que são esforçados, a desenvolver qualquer resquício de personalidade que seja útil a história. Se antes tínhamos um demônio que a cada 23 anos, durante 23 dias, ressurgia para caçar e comer pessoas. Agora temos um demônio serial killer que tem o auxílio de uma seita religiosa para efetuar a sua caça. Para piorar (sim ainda existe espaço para piora) o visual da criatura/demônio/pessoa de feições exóticas, foi alterado e sua caracterização é RIDÍCULA […] Olhos Famintos: Renascimento deveria se chamar Olhos Famintos: Abominável. Esse é o termo correto para descrever essa produção que merece ser enterrada e trancada pelos próximos 23 anos para ser esquecida e não traumatizar mais ninguém com sua exibição.
Crítica de Hiccaro Rodrigues de Olhos Famintos: Renascimento no Estação Nerd. Nota: 0,5/5,0.
PRATICAMENTE, NADA CONSEGUE SE SALVAR EM OLHOS FAMINTOS:
Primeiramente, é importante destacar que tão difícil quanto fazer um excelente filme é fazer um filme terrível. Isso se deve ao fato de que a maioria das produções conseguem ficar em um limbo, como se fosse o Rio Aqueronte da mesmice. Há acertos em determinados momentos, e erros em outros. É o caso de Assassinato no Expresso do Oriente (2017), A Casa da Colina (1999) e alguns outros. Infelizmente, e para a tristeza do espectador, Olhos Famintos: Renascimento consegue a proeza de não apresentar absolutamente nada de bom dentre todos os critérios possíveis em uma Crítica. Em outras palavras, ele consegue adentrar com louvor ao mundo das piores produções cinematográficas. Os motivos são os mais variados e abarcam todos os seus pontos: da narrativa, a parte técnica, sonoplastia e direção. Não há salvação. É como ir para o calvário durante seus longos 88 minutos de duração.
Para quem não conhece a lenda, o Jeepers Creepers, a criatura que dá nome a franquia, é uma monstruosidade que acorda a cada 23 anos, durante 23 dias pronto para canibalizar alguém na Lousiana. Em Olhos Famintos: Renascimento, a criatura se tornou uma lenda urbana, tendo inclusive um fã clube e uma feira de cosplayers em sua homenagem. É nesse mundo encantador que o casal Lane (Sydney Craven) e Chase (Imran Adams) se dirigem para essa CCXP da Shopee. Ele, um inveterado fã das histórias do Jeepers Creepers vai realizar o sonho de sua infância, e leva a namorada no cangote. Que pelo visto não tinha mais nada de bom para fazer. Com vinte minutos de tela, já é visível a péssima qualidade técnica. Os defeitos especiais das cenas no carro são evidentes, e os personagens têm partes do corpo cortadas.
TECNICAMENTE É UM ARRASTAR PARA O INFERNO:
Praticamente, em todos os cenários de Olhos Famintos: Renascimento, a iluminação é tão falsa quanto nota de 3 reais. E isso compromete qualquer imersão do espectador. A noite é mais iluminada do que se a Lua desmoronasse na Terra, enquanto, durante o dia, o Sol parece queimar em um tom amarelado do Saara. As sombras são inconsistentes e os cenários sem volume algum. O mesmo vale para o antagonista. Se, no primeiro filme, o de 2001, há um uso até decente de maquiagem e efeitos práticos, aqui tudo foi para o espaço, para dentro de um buraco negro. O design de criatura é ruim e muito aquém do já apresentado nos filmes antecessores. Se aquele vislumbre de criatura aterradora existia, o que se imagina é estar ali um ser humano sendo pago com um pacote de batata fritas para imitar uma criatura selvagem.
O martírio continua com a atuação de todo o elenco, desde os personagens com mais tempo de tela até aqueles que apenas aparecem para depois sumir como pólvora queimada. O dito casal protagonista não engrena, e é impossível sentir quaisquer formas de afeto. É provável que, devido as burrices surrealistas e incoerentes, mas necessária para o andamento truncado do roteiro, que o espectador torça para a criatura. Na busca de criar uma espécie de personalidade do The Creepers, há um momento de assassinato que a criatura para tudo que está fazendo para que a vitrola que ele idolatra toque. Somente depois ele se lembra e decide continuar seu desvio moral. Isso é diferente quando acontece com a classe e o estilo de Hannibal Lecter ou até mesmo de maneira hemorrágica em O Albergue, a franquia gore de Eli Roth.
HISTÓRIA TRUNCADA COM O BÁSICO MAL-FEITO:
O roteiro de Sean-Michael Argo é tão raso quanto a piscina de um recém-nascido, indo do desconhecido para lugar nenhum. De forma honesta, até se inicia em seus poucos minutos uma tentativa de abarcar a criatura de Olhos Famintos: Renascimento como uma lenda urbana. Porém, basta que os dez minutos da introdução terminem e o espectador é jogado em uma história que não cativa, com diálogos péssimos que é ainda mais inflada pela direção. O filme peca com fervor, sendo mais herege do que a aparição de Pazuzu no clássico O Exorcista (1973) quando o assunto é a direção. Timo Vuorensola deve ter acordado de péssimo humor durante toda a gravação do filme, pois seu trabalho é completamente amador, não fazendo sentido algum a construção do ambiente e o uso de suas câmeras, tão vazias quanto o eco na mente de um golpista.
Claro que perante um filme com a qualidade de Olhos Famintos: Renascimento, temos os famosos jump scares e uma trilha sonora utilizada de forma completamente errônea. Toda a construção desse porte tem como modelo ou causar susto ou pelo menos apreensão. Mas isso não existe. Como a narrativa é arrastada e não há imersão alguma, é difícil para o espectador acreditar que está vendo uma película cinematográfica básica. Nem o básico é bem-feito para os filmes slasher mais tradicionais e copiadores. Na verdade, se considerar o nível técnico pavoroso de Olhos Famintos: Renascimento, teremos sim um dos mais memoráveis filmes que alguém poderia ver. Aquele pequeno vagalume dos momentos iniciais, que ainda assim não ilumina o sombrio caminho no meio de corvos negros e brancos não se sustenta. O filme despenca como o fruto de uma árvore envenenada.
UM FILME PARA SER COLOCAR NO PANTEÃO DA RUINDADE:
No fim das contas e nesta Crítica, Olhos Famintos: Renascimento é realmente um filme de terror, porém de uma forma que nenhum diretor ou participante de tal evento gostaria que fosse. Existem filmes que sabem que são ruins e conseguem virar essa roda da fortuna. Não é esse caso. Olhos Famintos: Renascimento consegue errar praticamente em todos os componentes possíveis e imaginados. É uma aula do que não fazer, seja em um terror sobrenatural como O Exorcismo de Emily Rose (2006) e A Freira 2 (2023) ou um slasher completamente genérico. Mesmo tendo como antagonista uma criatura que poderia ser opressiva, como é o Jeepers Creepers, o filme se perde com um roteiro problemático que não envolve e nem mesmo evolui. Basicamente, o que se tem é um compilado de cenas atuado por pessoas inexpressivas e por uma criatura que não assusta.
Além disso, toda a parte técnica de Olhos Famintos: Renascimento é um desperdício em qualidade. Os efeitos especiais são tenebrosos e poucos filmes conseguem usar a iluminação e as sombras de maneira tão errada quanto este. Assim, momentos que deveriam ser mal iluminados tem uma luz artificial gritante. Já as cenas que deveriam ter uma iluminação diurna, aparentam ser de outra galáxia, algo que nem Universe Sandbox 2 explica. A trilha sonora é ruim, o terceiro ato não se salva nem com as leis da física das luas de Júpiter. Somos levados a torcer para que o filme termine logo. Assim, o óbvio como os dentes postiços e a máscara de borracha da criatura. Olhos Famintos: Renascimento é um filme tenebroso. O espectador só encontrará algum tipo de diversão se for aquela ávida pessoa em encontrar propostas medonhas.
Números
Olhos Famintos: Renascimento (2022)
Tentar trazer para a luz uma franquia sombria, Olhos Famintos: Renascimento (2022) é uma tragédia grega sem nenhuma qualidade. Uma verdadeira lição do que não se pode fazer na técnica e no roteiro, levando o Creeper para a lata do lixo, sem chance de retorno.
CONTRAS
- Efeitos especiais são péssimos, sendo claramente uma amostra falsificada da realidade.
- O roteiro tenta caminhar, mas tem suas pernas amputadas com péssimos diálogos e uma engrenagem enferrujada.
- A direção é estranha, e faz com que todos os defeitos do filme sejam ainda mais realçados.
- Chamar os colaboradores deste filme de atores chega a ser bastante ofensivo.
- O antagonista, que já foi uma criatura assustadora tem trejeitos que mais fazem parecer um ser humano qualquer.
- Esqueça qualquer tipo de inovação, até pelo fato de que o básico do slasher aqui não foi feito de forma correta.
- Não espere por diversão, nem mesmo se você do gênero trash. Isso não é trash, é apenas muito ruim.