Todos nós sabemos que temos que pegar todos! Porém, para os mais desatentos que passeiam pelas regiões de Pokémon e não fazem a leitura da Pokédex, algumas descrições são macabras. Existem Pokémon que se aproximam de hospitais para usar as almas dos mortos como o fogo de sua cabeça. Sim, este tipo de descrição é aconchegante, mas existe. Porém, na biologia, e antes mesmo do sucesso de The Last of Us, série de games produzida pela Naughty Dog e na televisão pela HBO, os fungos já podiam ser mortais. E o maior exemplo é a linha evolutiva de Paras e Parasect, que apareceram em Kanto, com Pokémon Red e Blue no Game Boy, quando Rhydon foi o primeiro Pokémon. Afinal, ele nada mais é do que um zumbi sendo controlado pelo Cordyceps. Mas calma, vamos nos estressar em Hisui com essas criaturas e entender esta Curiosidade do Guariento Portal.
Atenção: A Curiosidade a seguir, se não ficou clara, apresenta o lado sombrio de Pokémon, a maior criação da Game Freak. Sim, são tantas criaturas lindas, fofas e meigas. Entretanto, existe um mundo com muita raiva, rancor e uma cadeia alimentar completa. Afinal, são “animais” e alguns deles comem outros animais ou coisas, como almas perdidas vagando na escuridão. Esse não é o caso do pobre coitado do Paras, que na verdade não consegue nem manter o controle de seu próprio corpo. Mas explica muita coisa o motivo de um de seus ataques ser seus esporos, que na verdade nem são seus, mas dos cogumelos que no Japão são especiarias e chamados de Tochukaso. As coisas só saem do controle quando ele evolui para Parasect, e passa a ter um olho completamente esbranquiçado, no melhor estilo zumbi. Então, vamos finalmente para a Curiosidade.
Um ainda está vivo, embora alimentando os fungos em suas costas.
Para quem não conhece, Paras e Parasect são Pokémon do tipo Grama e Inseto que apareceram quando a franquia ainda era bebê, em Kanto, na Primeira Geração. Mais recentemente, atazanou os jogadores com seus surtos de perseguição em Hisui, a antiga região de Sinnoh em Pokémon Legends: Arceus, do Nintendo Switch. O pequeno Paras tem dois pequenos cogumelos em suas costas, que crescem conforme ele também cresce. Acontece que, na Pokédex das diferentes gerações, os dois Tochukaso na verdade são os “verdadeiros seres” da criatura. Desde o início, quando ainda era apenas um ovo, o Parasect joga esporos nos futuros Paras para que já nasçam com este fungo, em uma espécie de simbiose que na verdade serve apenas ao fungo. No decorrer de sua vida, Paras começa a ser dominado e a servir de transporte para o Tochucako, nome japonês para a espécie Ophiocordyceps sinensis.
Quando Paras se alimenta das seivas das árvores, a maior parte dos nutrientes vai para os dois fungos em suas costas. No entanto, Paras ainda parece manter uma espécie de controle sobre suas ações, mesmo com dois parasitas que mais cedo ou mais tarde trazem o seu fim. E esse fim ocorre com a sua evolução para Parasect. Quando parte para sua forma mais poderosa, Parasect passa a ter um enorme e único cogumelo em suas costas, tendo seu corpo praticamente escondido abaixo. No entanto, se antes tinha uma pupila na forma de Paras, agora o Pokémon tem apenas dois imensos olhos brancos. As descrições na Pokédex acerca de Parasect é categórica, o animal não existe mais. Na verdade, é uma forma zumbificada e o que controla seus movimentos por completo é o fungo que está em suas costas.
O outro está morto, e serve apenas de receptáculo de seu cogumelo.
Assim sendo, e pasmem nesta Curiosidade, Parasect é um Pokémon que, biologicamente falando já estaria morto, e seus movimentos, ataques e tudo que envolve mobilidade na verdade é controlado pelo Tochukaso enorme em suas costas. Que, como outro fungo qualquer tem como intuito crescer e espalhar todo os seus esporos, seja onde ou em que criatura for. Parece familiar? Claro que sim! Afinal, o nome do cogumelo de Paras e Parasect é a mesma influência que destruiu praticamente a humanidade em The Last of Us com um apocalipse zumbi em que a arma química não foi um vírus, mas sim um fungo tenebroso. Saindo um pouco da vida de Paldea ou dos Estados Unidos infectado, o Ophiocordyceps sinensis é conhecido por parasitar e crescer em insetos, como cigarras, gafanhotos e especialmente formigas. Um esporo é o suficiente para prescrever o fim do animal.
Quando um esporo do Ophiocordyceps sinensis se instala em uma formiga, por exemplo, ele libera toxinas que começam a fazer efeito no sistema nervoso do animal, passando a controlá-lo ao seu prazer. Buscando temperatura e umidade corretas, o fungo então leva – uma formiga talvez – ao seu local ideal, e aos poucos passa a trocar as células do animal pelas suas células. Neste caso, o fungo passa a crescer de dentro para fora, usando o animal como receptor. Tudo isso até que a florescência, que normalmente ocorre na cabeça do animal, desabroche. É então que os esporos são produzidos e, novamente no ar, chegarão no exoesqueleto de outro inseto para que o ciclo continue. Esse controle da mente e do corpo do animal é uma arma eficaz utilizada pelos fungos da família Cordyceps através da evolução, que os levou a serem temidos – pelo menos para os insetos.
Tochukaso é o nome japonês do Cordyceps, o fungo de The Last of Us.
No entanto, nem tudo é um eterno pesadelo quando se trata do Cordyceps, na verdade o Ophiocordyceps sinensis. A título de Curiosidade, na China e em partes do Leste da Ásia, como o Butão e o Nepal, o fungo é considerado um espécime comercial medicinal. Nestes países, o Cordyceps é produzido ao parasitar ovos da Mariposa Fantasma. No caso, ele cresce, mata a mariposa e a mumifica até que da cabeça da larva eclodida saia a florescência, sendo esta comercializada. A Medicina Tradicional Chinesa usa o fungo como afrodisíaco. A questão é que você, caro leitor ou leitora ao viajar para alguns destes lugares e com a curiosidade de experimentar, deve tomar cuidado. Segundo a National Medical Products Administration da China, os fungos colhidos em estado selvagem podem conter altas doses de arsênio. O problema é que esse elemento é mortal para qualquer ser humano.
Em Pokémon, há certo efeito medicinal também com os esporos produzidos por Paras. Na animação, e não nos games, Ash Ketchum e sua trupe de moleques enxeridos encontram em suas viagens uma jovem que queria evoluir o seu Paras para que ele passasse a produzir uma poção milagrosa. Essa poção aumentaria todos os atributos dos Pokémon, como o Ataque, Defesa e a Velocidade. Esta menina, de nome Cassandra consegue evoluir seu Pokémon e abre uma loja de especiarias com a sua avó para vender a tal poção milagrosa. Essa interação entre animal e fungo é vista com Paras e Parasect onde estiverem, seja em Alola, em Sinnoh ou em Galar segurando um pequeno ou grande cogumelo. A depender da sorte do jogador. Mas não do pequeno Pokémon, ao qual a evolução significa por fim a sua vida, e a vitória do fungo parasita. Não chorem, faz parte dessa Curiosidade.