A Guerra Fria acabou! Mesmo assim, o medo instaurado por arsenais nucleares é até hoje peça importante no cenário internacional. Afinal, uma guerra nuclear é o último passo para estragar sem direito de reparo a Terra. Games como Metro Redux, da ucraniana 4A Games, Fallout 4, da americana Bethesda e Surviving the Aftermath, da sueca Paradox Interactive, já apostaram na questão da reinvenção humana em um mundo pós apocalíptico. Porém, se não temos guerra, temos acidentes nucleares. Como o caso de Goiânia, no Brasil em 1987, o de Fukushima no Japão em 2011 e o mais conhecido de todos, o da Usina Nuclear de Chernobyl, em 1986. Assim, conheça três games, de clássicos cult como S.T.A.L.K.E.R, do RPG Chernobylite e do mobile Escape from Chernobyl que retratam esse acidente nuclear nesta lista do Guariento Portal. Não esqueça é claro seu contador Geiger!
Atenção: Como já é de praxe aqui no Guariento Portal, a intenção desta lista de games é levar conhecimento aos jogadores e jogadoras. Especialmente se você nunca ouviu falar dos itens dispostos nesta lista. O Acidente Nuclear de Chernobyl foi o mais grave acidente radioativo ocorrido, quando a atual Ucrânia ainda fazia parte da União Soviética. Um dos reatores da usina derreteu, levando para atmosfera cargas altíssimas de dejetos radioativos, impactando no meio ambiente e fazendo de Pripyat uma cidade fantasma. A questão mais intrigante foi o controle estatal do acidente. A Suécia foi o primeiro país a destacar que algo de errado não estava certo na região de Chernobyl. Isso parece ser comum dentro de nações que querem abafar casos, como foi o de Ohio e seu Cloreto de Vinila. Porém, vamos voltar para esta lista que é a melhor coisa a se fazer.
1º – S.T.A.L.K.E.R. Produzido pela ucraniana GSC Game World.
Sem dúvida, S.T.A.L.K.E.R é o mais cult dentre todos os games a mencionar o acidente nuclear de Chernobyl. Lançado originalmente em 2007 pela GSC Game World, o game é vagamente inspirado no romance Piquenique na Estrada, de Arkadi e Boris Strugatsky. Aqui, o acidente ocorreu como no mundo real, em 1986. Porém, uma segunda explosão em 2006 piorou ainda mais a situação, trazendo mutações ainda mais assombrosas para a região da usina, assim como bagunçou completamente as Leis da Física. Raios que aparecem sem precisar de nuvens, redemoinhos no meio do ar e fogo espontâneo são apenas alguns dos elementos que se unem a criaturas modificadas e extremamente perigosas que habitam a Zona de Exclusão. Junto destes perigos, temos o exército ucraniano que faz questão de manter tudo em segredo, e facções locais que têm seus próprios métodos de justiça.
Claro que Chernobyl não está na lista dos melhores locais para se passar as férias de verão, nem as de inverno. Acontece que certos meliantes sabem os tesouros que a Zona pode proporcionar, e pessoas corajosas – ou sem um pingo de sanidade – embarcam em esquadrões chamados de perseguidores, o S.T.A.L.K.E.R do título. Lembra que a segunda explosão aconteceu em 2006? Então, nesses vinte anos entre o Acidente e a realidade do game, o governo começou um processo de habitação dentro da Zona. Muito pela diminuição dos níveis de radiação. Acontece que com a segunda explosão, todos aqueles que eram humanos se transformam em bestas sedentas em destruir a sua carne, trazendo elementos de Survival Horror ao game. Com a quantidade de inimigos – humanos ou nem tão humanos – S.T.A.L.K.E.R é conhecido como um FPS, no melhor estilo Call of Duty.
Na Zona de Exclusão de Chernobyl, as Leis da Física são sem sentido.
Porém, mesmo não sendo o seu forte, há também elementos de RPG, uma vez que seu personagem evolui com o decorrer da narrativa. Passando de um simples novato perseguidor para um membro profissional, ao mesmo tempo em que deve entender os seus motivos de estar na Zona de Exclusão. No início do game, você não sabe nem mesmo quem é e qual é a sua principal missão – que mais para frente se traduz em assassinar um inimigo e chegar até o centro da Zona, a Usina e seu Sarcófago. Os desenvolvedores da GSC Game World, embora num mundo fictício, souberam trazer fatos realistas. A Inteligência Artificial da vida selvagem é bem desenvolvida, tendo conflitos por comida e sobrevivência, assim como o envenenamento por radiação. Tudo isso através da engine própria do estúdio, a X-Ray Engine.
Sendo o mais antigo da lista, os gráficos podem ter envelhecido, mas até hoje S.T.A.L.K.E.R se apresenta como uma excelente narrativa não linear com requintes de contaminação, tiro, porrada, bomba e evolução. O game pode ser obtido exclusivamente para o PC. Duas continuações foram lançadas, Clear Sky, em 2008, e Call of Pripyat, em 2009, alargando ainda mais a narrativa do primeiro game. Originalmente, a GSC Game World lançaria, depois de treze anos, o quarto título da franquia, STALKER 2: Hearts of Chornobyl – mudando a nomenclatura do game e alterando o russo Chernobyl para o ucraniano Chornobyl – porém, devido a Guerra na Ucrânia promovida pela Rússia, o game foi adiado e o estúdio teve de deixar Kiev e ir para Praga, na Tchéquia. Será a primeira vez da franquia nos consoles, sendo lançado também no Game Pass para Xbox Series S/X.
2º – Escape from Chernobyl. Produzido pela americana Atypical Games.
S.T.A.L.K.E.R pode ser o responsável por trazer sua narrativa para dentro da Zona de Exclusão de Chernobyl. Contudo, Escape from Chernobyl, game da romeno-americana Atypical Games, lançado em 2018 é mais preciso e imediato em definir seu local inicial. O interior da usina, mais precisamente as regiões próximas do reator 4, o mesmo que derreteu e explodiu em 1986. Aqui, ao invés de um game FPS, onde o jogador vai se acostumando com o caos de destruir e matar os inimigos, temos um Survival Horror mais intimista e macabro, que bebe da fonte de Outlast, por exemplo. As armas estão presentes, mas o jogador não é um atirador de elite nem participante de um esquadrão da morte para acreditar que estará seguro. A radiação transformou os cientistas e trabalhadores locais em zumbis – usando uma das mais conhecidas teorias da conspiração sobre esse desastre nuclear.
Por ser um título lançado inicialmente para dispositivos mobile, não espere um detalhamento gráfico digno de plataformas maiores. Porém, Escape from Chernobyl se orgulha de apresentar um ambiente claustrofóbico e extremamente idêntico às instalações originais de 1986. O uso de luz e sombra pode até ser um dos pontos negativos, uma vez que em pequenas telas, o game é escuro demais para qualquer gosto, mas pelo menos se acerta na Inteligência Artificial dos inimigos. Se o jogador conseguir sair da Usina e de seu mortal reator destruído, ainda assim Escape from Chernobyl apresenta uma tentativa de mundo aberto em que a situação do jogador só piora. Ressalta-se, o mundo não é tão aberto, mas consegue ser assustador quando a iluminação permite enxergar. Nem sempre será melhor para o jogador ir para o combate, afinal aqui não vai ter empate, só vai encontrar a morte mesmo.
O mais simples. Aqui, temos que escapar dos restos da Usina.
Toda essa estratégia em Escape from Chernobyl tem a estatura de gráficos ao nível da geração do Nintendo 64 e PlayStation com alguns aprimoramentos. Há também, em parceria com o Survival Horror um modo interno de criação de armas e outros equipamentos. Mesmo com armas brancas, espingardas de calibres diversos, o jogador poderá encontrar outros itens para lhe auxiliar. Desde é claro das famosas poções e itens de cura – que não acontecem no mundo real – assim como itens em que futuramente se transformarão em seu armamento preferido. Até mesmo os famosos checkpoints, que poderiam ajudar na narrativa são desconjuntados. Eles não aparecem de maneira tradicional. Na verdade, eles só são identificados com um enorme zumbido assim que são encontrados. De outra forma, Escape from Chernobyl é uma experiência em formato de game oriunda dos tablets e smartphones, especialmente para Android e Apple Store.
Como destacado nesta lista, Escape from Chernobyl foi originalmente lançado para os celulares ao redor do mundo. Unindo-se assim aos grupos de games exclusivos deste tipo de aparelho. Contudo, o mundo mudou e pode-se sentir essa mudança. O Nintendo Switch recebeu sua própria versão em 2020. O game, aliás, ultrapassou as perspectivas do mundo dos códigos fechados e foi para as páginas dos livros. O escritor britânico Andy Martin escreveu o livro Escape from Chernobyl, lançado em 2021. Embora não usem os mesmos personagens, o plot é muito similar em ambas as mídias. Nas páginas dos livros, o leitor observa a vida de Alina e Lev pouco antes e depois dos acontecimentos de Chernobyl em 1986. O desastre é um pano de fundo para os conflitos internos dos cidadãos locais, assim como as responsabilidades dos membros do Partido Comunista em abafar a calamidade.
3º – Chernobylite. Produzido pela polaca The Farm 51.
O game mais novo da lista, Chernobylite pode ser definido como o resultado de um longo tempo de games apocalípticos com a pitada de S.T.A.L.K.E.R. Produzido pela polaca The Farm 51 e lançado em 2021, Chernobylite aumenta os elementos de RPG para criar uma versão tridimensional e completamente assustadora da Zona Exclusão de Chernobyl, produzida com os melhores gráficos da Unreal Engine 4. Neste game, o jogador encarna na pele de um físico que já trabalhou na Usina antes do acidente de 1986 de nome Igor. No entanto, trinta anos se passaram e o coração do personagem é perseguido pelo estranho desaparecimento de sua noiva na cidade de Pripyat durante os eventos explosivos. Nesta Zona de Exclusão, é possível ver de tudo um pouco, desde militares que buscam abafar e proteger a Zona, até outros perseguidores que buscam tesouros nesta Terra sem Lei.
Entretanto, além de ter os inimigos humanos, Chernobylite também faz questão de usar o Survival Horror com criaturas sobrenaturais. De todos estes aspectos, o sistema de RPG é o mais bem preparado de todos os games desta lista. Seja na construção de uma base própria, onde o jogador poderia criar sua estratégia para explorar a área, com os desafios sendo definidos diariamente. Sobreviver não é fácil, pois além dos perigos de outros personagens, o jogador poderá também usar de táticas stealth no melhor estilo Metal Gear Solid para não ser visto por inimigos muito mais poderosos. A própria narrativa é definida pelas escolhas – únicas – do jogador. Essas escolhas proverão ferramentas distintas para o desenvolvimento das armas do jogador, de sua base e até de seus outros camaradas. Isso se você confiar é claro nesses camaradas que você encontra em sua jornada.
Chernobyl encontra o seu melhor mundo em termos gráficos.
A morte em Chernobylite é uma das poucas formas em que todas as consequências de suas ações podem ser alteradas, fazendo do fim da vida uma casualidade na vida de Igor. Em outros aspectos, como o gráfico e o sonoro, é possível contemplar uma aventura perturbadora e contemplativa dentro da Zona de Exclusão. Os cenários são extremamente bem otimizados, com o uso bem alternado de luz e de sombras, assim como toda a trilha, que é a agulha de crochê necessário para o cachecol que é Chernobylite. A narrativa de Igor Khymynuk é um dos cordões para aprimorar tudo que o jogador pode obter, em uma das melhores narrativas sobre Chernobyl de um game que sem dúvida é o sucessor espiritual de S.T.A.L.K.E.R. Atualizado desta vez com tudo que a tecnologia de 2021 pode fazer no mundo do entretenimento eletrônico.
Embora não seja uma franquia propriamente dita, Chernobylite abriu as portas novamente para o Desastre Nuclear de Chernobyl. O game, multiplataforma de carteirinha, está disponível nos consoles da Sony e da Microsoft, assim como para o PC. Da mesma forma que Escape from Chernobyl, há a disposição do Português do Brasil para os jogadores locais, algo que pela época de S.T.A.L.K.E.R não foi possível. Dado o sucesso de Chernobylite, a The Farm 51 aprimorou ainda mais a narrativa com uma expansão, exclusiva para PC chamada The Arrival. Ao invés de Igor, o jogador é colocado no controle de Sashko Horobets, um dos companheiros que podem ser encontrados na campanha principal de Chernobylite ao lado de Igor. Você pode achar até confuso e desconcertante o início do game, mas com o decorrer da jogatina, tudo se transforma em uma narrativa bastante poderosa.
Sem dúvida, Chernobyl é um acidente com muita história para contar.
O Acidente Nuclear de Chernobyl de 1986, é um dos mais poderosos acidentes radioativos da história humana. Desde que o homem conquistou o poder do átomo e desafiou a morte a ser a destruidora de mundos, e mesmo depois dos bombardeios nucleares de Hiroshima e Nagasaki na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e da criação do Godzilla. A explosão do reator 4 pode ter produzido essa lista com três games satisfatórios, assim como filmes que destacam tanto Teorias da Conspiração acerca do pós acidente nuclear, como o filme Chernobyl: Sinta a Radiação, e também séries, como a da HBO – de House of the Dragon e The Last of Us – Chernobyl, ao relatar os momentos da explosão da Usina Nuclear. No mundo dos games, várias eram as possibilidades, mas todos os itens desta lista detém uma similaridade: todos são Survival Horror, ora com aspectos de RPG, ora com elementos fortes de FPS.
Assim sendo, essa lista busca trazer aos jogadores e jogadoras alternativas para aquelas que querem se aprofundar nos acontecimentos próximos a Prypiat. Por mais que tenham aspectos fantásticos em cada uma das narrativas. Desde o clássico dentre todos, S.T.A.L.K.E.R, para aqueles que gostem de uma ação mais frenética e cheia de tiroteio. Ou então para um Survival Horror puro como Escape from Chernobyl, atribuído em dispositivos mobile para que possa ser jogado em todos os lugares. Até no banheiro, inclusive em sua versão Nintendo Switch. Por fim, Chernobylite, o mais poderoso em termos gráficos, detendo aspectos de elementos de RPG. Como se fosse produzido pela Bethesda, produtora e distribuidora de clássicos como The Elder Scrolls: Skyrim e o não tão fantástico Fallout 76. Se você não conhece nenhum destes games, sinta-se à vontade de embarcar nesta radiação protagonizada por Chernobyl e nesta lista do Guariento Portal.